Porto: Capela da Lada
Sem características arquitetónicas ou artísticas dignas de registo, a capela da Lada tem apenas algum interesse pela sua localização, bem no coração da Ribeira.
A atual Capela de Nossa Senhora da Lada, que se ergue na Ribeira, quase em frente da Ponte D. Luís I, nada tem a ver com a primitiva capela da mesma invocação, que ficava encostada à muralha fernandina, do lado interior, no cimo do muro da Ribeira, ao fundo das Escadas do Codeçal e a elas paralela.
A que hoje se vê perto desse local foi edificada em data ignorada, mas depois da construção da Ponte D. Luís. Da muralha descia-se, por uma escada de pedra, para esta capela, cujo telhado ficava quase ao nível do piso superior da muralha. Mas, ao contrário do que já foi dito, nenhuma destas capelas tem qualquer relação com os padres da Companhia de Jesus.
De facto, quando os jesuítas se instalaram na cidade do Porto, no século XVI, antes de construírem a sua igreja de S. Lourenço (vulgarmente chamada dos Grilos) e o colégio anexo (que é hoje o Seminário diocesano de Nossa Senhora da Conceição), estiveram instalados no Hospício de Santa Clara, que existiu na Rua dos Mercadores, e, depois, na Lada.
A relação consiste apenas no local, já que os jesuítas aqui se estabeleceram, numas casas dessa zona da Ribeira, cedidas por Henrique Nunes de Gouveia, um opulento capitalista portuense que, tocado pela pregação desses padres, tudo abandonou para ingressar na
Companhia, onde também entraram os filhos, indo as filhas para o mosteiro de Santa Clara e a mulher para o das dominicanas. No dizer de Sampaio Bruno, no seu livro «O Encoberto», «foi uma dispersão completa, um extermínio total».
A confusão de relacionar a capela da Lada com os jesuítas poderá estar no facto de, na mesma zona ter existido, outrora, uma outra capelinha (a de S. Francisco de Borja) que, depois de ter sido abandonada e transformada num armazém, foi demolida por volta de 1920.
Esta capela ficava no alto das Escadas de S. Francisco de Borja, faceando com a Rua do Barredo. Nos anos 40, com as obras do Túnel da Ribeira (aberto ao trânsito em 1947), o bairro da Lada (onde se inseria a capela assim designada) sofreu profundas alterações, integradas no Plano Diretor de Robert Auzelle, sendo então demolida a chamada «Ilha dos ‘finta» e grande parte do casario da Lada.
Na altura, foi também apresentada como razão a necessidade de «higienizar essa zona da Ribeira». Cerca de 50 anos depois, o Comissariado para a Recuperação Urbana da Área Ribeira/Barredo (CRUARB) elaborou um projeto (da autoria do arquiteto António Moura) para a reconstrução dessa área ribeirinha, com o objetivo de devolver à escarpa da Lada a sua antiga feição.
Em 12 de Dezembro de 1988 era lançada a primeira pedra do empreendimento: 35 habitações sociais e 11 estabelecimentos comerciais, além do elevador de ferro, perfeitamente enquadrado na vizinha ponte metálica.
As obras realizadas com a apoio da Fundação Calouste Gulbenkian (atendendo ao «elevado alcance da obra») ficaram prontas em 1993 (o elevador só em 1995 entrou em funcionamento) e deram, na verdade, uma visão nova à zona envolvente da capela da Lada.
A capela tem uma fachada simples, com uma porta ao centro e, no seu enfiamento, uma janela. Remata a frontaria um frontão de granito encimado por um nicho, também com um pequeno frontão, e uma cruz de pedra.
Interiormente, a capela é de uma só nave, coberta por uma abobada em berço, com estuques simples. A capela-mor tem uma clarabóia e um retábulo modesto, a branco e ouro, sem estilo característico, de período tardio, com uma imagem de Cristo crucificado e a Virgem aos pés.
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