Porque é que o Galego é tão idêntico ao Português?
Há quem diga que são 2 línguas diferentes e há quem diga que são a mesma. Afinal, porque é que o galego é tão idêntico ao português?
Todas as línguas têm as suas raízes e surgem de outra língua mais antiga. No caso da língua portuguesa podemos afirmar que a mesma provêm do latim, mas não existiu apenas uma variante do latim, como muitos acreditam ter existido.

Italiano, francês, espanhol e português são algumas das línguas a que chamamos de línguas latinas, sendo que cada uma teve várias variantes mas, analisemos apenas na nossa língua materna, o português.
O latim, idioma oficial do império Romano, teve duas formas: o latim clássico e o latim vulgar. O latim clássico era a língua falada pelas classes mais altas do império e pelas mais cultas, enquanto o latim vulgar era o falado pelo povo.

Foi deste latim vulgar que surgiram as línguas neolatinas como é o caso do catalão, castelhano e do galaico-português. E foi precisamente da língua neolatina galaico-portuguesa que surgiu o idioma português, dai hoje encontrarmos muitas semelhanças do português com o galego.
Palavras como can (cão), carro (carro), hoxe (hoje) e muitas outras aproximam a língua galega do português, em detrimento do castelhano (perro, coche, hoy, respectivamente).

Voltando mais atrás, com o avanço do Império Romano, a linguagem latina foi-se espalhando por quase todo o velho continente, sendo que na Península Ibérica o latim foi-se misturando com os vários substratos linguísticos já existentes e que foram originando vários dialetos apelidados de romanços (falar à maneira dos romanos), que se foram também modificando ao longo dos anos levando à origem de várias línguas como o caso do galaico-português falado na Lusitânia (dividido mais tarde em Galego e Português, separadamente).

Esta separação entre o galego (Galiza) e o português (Portugal) vem acentuar-se apenas no século XIV, aquando da consolidação política autónoma do novo reino, sendo que foi no século XV, através dos descobrimentos portugueses que a língua de Camões se foi ampliando e espalhando pelos vários pontos do Globo.
Se gostou deste artigo, também poderá gostar de:
Qual é o nome da nossa língua? Será galego?
O que ouvem os portugueses quando ouvem galego?
O português e o galego são a mesma língua?
_
Um detalhe: “traguer”, “faguer”, na realidade é uma forma de tentar transcrever o que seria o som do Z medieval (dz, quase um DJ). Tenho uma pergunta: ameãçar seria “amenaçar”? Fico na dúvida porque em galego você tem “poñer”
O galego actualmente usa de maneira oficial uma ortografia mais ou menos adaptada do castelhano em lugar da ortografia histórica, tão semelhante à portuguesa. Uma ortografia que recolhe mal os sons e as variações dialectais galegas ao longo do território. E também afastam o galego do português enormemente.
É a norma da Real Academia Gallega, que mudou bruscamente de orientação nos anos 80 desde uma língua baseada na língua literária e tinha como objectivo a confluência com o português cara um modelo de língua baseado na dialectologia e que fogia conscientemente do português. Pressões políticas estão na origem dessa escolha normativa e ainda hoje o partido político que governa continua a ser o mesmo (Partido Popular) que impulsou essa escolha sobre a outra opção, a da confluência progressiva com o português.
De todos modos há um movimento linguístico e cultural que defende a adopção de uma ortografia “à portuguesa”, é dizer, que recupera a ortografia histórica galego-portuguesa e adapta-a aos nossos tempos de forma harmónica com o português.
Na tabela vejo várias palavras que possuem formas idênticas no galego, só que não foram recolhidas. Por exemplo: deitar também é utilizada em galego actual, só que a norma RAG prefere “botar”, um decalque do castelhano “echar”. Adoentar, doente também é usado na Galiza. Ou marfim, ou amiúde, que existe tanto em galego como português actuais.
E na maioria dos casos as diferenças esvaecem-se magicamente se mudarmos a ortografia castelhana oficial pola reintegracionista: andorinha, aginha/asinha também presente em português como regionalismo, ameaçar, etc.