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Em outubro de 1961 (17 anos depois de ter estado no colégio), o padre Carreira celebrou o casamento de Luigi com Marisa.

Foi o testemunho de Cittone que levou o Memorial do Holocausto, em Jerusalém, a atribuir a medalha de «Justo entre as Nações» a Joaquim Carreira. Apenas quatro portugueses, entre eles Aristides de Sousa Mendes, têm este título.
Priolo tinha então 31anos e desde 1958 era «referendário» (técnico superior) do Senado italiano – onde chegaria a desempenhar o cargo de vice-secretario-geral, trabalhando com toda a geração de políticos italianos do Pós-Guerra: Alcide de Gasperi, Aldo Moro, Giovanni Spadolini, Amintore Fanfani, Francesco Cossiga.
Nessa altura, Carreira já deixara as funções no colégio. A instituição mudara entretanto do palacete no centro histórico de Roma, perto do Castel Sant’Angelo, para um edifício construído de raiz, um pouco mais longe do Vaticano.

O padre Joaquim Carreira, em Roma, em 1946.
Luigi chegou ao Colégio Português a 29 de dezembro de 1943 ou a 2 de Janeiro de 1944 – a memória não guardou o dia exato. Desde setembro de 1943, e após a demissão de Mussolini, Roma estava sob as ordens do comando militar alemão.
No livro Reggio Calabria – dalla Guerra alla Rivolta, organizado pelo jornalista Enzo Lagana, com histórias da cidade, Priolo escreve: «O período que mais me enriqueceu foi o que decorreu do Natal de 1943 a 4 de Junho de 1944 (dia da libertação de Roma), no Colégio Pontifício Português.»
E justifica: «A diabólica capacidade da minha mãe conseguiu “enfiar” um miúdo de 14 anos, exemplar único, num sinédrio de refugiados políticos, personalidades da ciência, do direito, da medicina…»

Joaquim Carreira foi também o primeiro padre português a tirar licença de piloto aviador.
Entre as pessoas que procuraram refúgio no colégio estava também um tio de Luigi, Mario Zagari, oficial do exército, referido igualmente no relatório da atividade da casa sobre o ano letivo 1933-34. E havia Mário Jacopetti, professor de Engenharia na Universidade de Nápoles, e os médicos Giuseppe Caronìa e Cesare Frugoni, conhecidos na capital italiana.
Caronìa era reitor da Universidade de Roma e dirigente do Partido Popular/Democracia Cristã Italiana, tendo escondido muitas pessoas na Clínica das Doenças Infecciosas da Universidade, que dirigia – à conta disso começou a ser vigiado, acabando por ter de se refugiar no colégio.
Frugoni era diretor da Clínica Médica Geral da Universidade de Roma e um dos mais conhecidos clínicos da capital italiana, com clientes como o Duce fascista Benito Mussolini, o físico Guilherme Marconi, inventor da rádio, e o maestro Arturo Toscanini.
(cont.)