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Acabavam assim, num festivo Terreiro do Paço, os 60 anos de domínio espanhol?
Não: faltava o mais difícil, que era consolidar a independência tão facilmente reconquistada em menos de uma hora, numa manhã em que Lisboa acordara a bater o dente de frio.

Por sorte, o gigantesco império de Filipe IV, o maior que o mundo já conheceu, estava nesse tempo embrulhado em guerras por toda a parte. Primeiro tinha sido a revolta da Catalunha; depois foi o envolvimento na Guerra dos Trinta Anos, onde o adversário direto era a poderosa França do cardeal Richelieu.
Não que Portugal tivesse deixado de interessar a Madrid, mas a verdade é que a Espanha não tinha tempo para respirar.

O nosso país teve também a sorte rara de dispor então de um primeiro-ministro competente, o conde de Castelo Melhor. Obtida a colaboração da França e da Inglaterra, Portugal pôde reestruturar com relativa calma o seu exército, cujo comando foi conferido ao alemão Schomberg.

E assim, após uma quase trégua de 20 anos ditada pela situação de sufoco em que se encontrava a Espanha, começou por fim a fase mais acesa de uma guerra em que as vitórias portuguesas sobre exércitos do país vizinho foram surgindo (como diria uma popular figura) com tranquilidade…

Primeiro deu-se a Batalha das Linhas de Elvas, em 14 de janeiro de 1659, com os portugueses comandados por D. Sancho Manuel e pelo marquês de Marialva.
Seguiu-se a do Ameixial, perto de Estremoz, em 8 de Janeiro de 1663, onde os nossos tiveram à frente Schomberg e o mesmo Sancho Manuel.

No ano seguinte, a 7 de julho, Pedro Jacques de Magalhães deu uma tareia aos invasores em Figueira de Castelo Rodrigo e, a 17 de julho de 1665, Schomberg e Marialva alcançaram feito idêntico em Montes Claros, nas imediações de Borba.
E não se tratou de escaramuças, mas de batalhas a valer, por vezes com mais de 20 mil soldados de cada lado.

Ao mesmo tempo, os invasores holandeses eram expulsos de Ceuta, Malaca, Ormuz, Ceilão e de vastas zonas do Brasil e de Angola. Independentemente da situação depressiva em que se encontrava a Espanha, a Guerra da Restauração foi, sem dúvida, uma manifestação de vitalidade portuguesa para muitos inesperada e hoje algo surpreendente.
O tratado de paz viria a ser assinado em 13 de fevereiro de 1668, em Lisboa. A Espanha reconhecia finalmente a independência de Portugal, dentro das fronteiras de 1580.
Castelo Melhor ainda sugerira que a Galiza nos fosse entregue, mas houve quem achasse mais prudente não impor tão pesada pena aos derrotados.
Valia ou não valia esta data um justificadíssimo feriado nacional?
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