A Língua Portuguesa é fértil em expressões populares ou idiomáticas. Braga, em concreto, tem servido de inspiração para algumas delas. Neste artigo, encontra-se a explicação das expressões típicas de Braga ou, de forma mais rigorosa, das expressões cujo nome de Braga é referido porque, em boa verdade, as expressões são utilizadas em todo o território nacional.
“Ver Braga por um canudo”

A expressão foi imortalizada pelo intemporal Rafael Bordalo Pinheiro – criador, entre outras coisas, da caricatura do Zé Povinho – no álbum de caricaturas António Maria.
A expressão deriva do telescópio localizado no Bom Jesus que permite observar a cidade. Tem como significado “morrer na praia”, ver as expectativas frustradas, ficar perto de um objetivo mas não conseguir atingi-lo.

Uma das explicações mais aceites para esse significado tem a ver com o nevoeiro que, com alguma frequência, se faz sentir no Bom Jesus e que impede uma observação límpida da cidade.

Outra explicação possível pode dever-se à “proximidade” enganadora que o próprio canudo produz: o sentimento do “quase” estar na cidade mas não estar.
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“Mandar abaixo de Braga”

Se já foi mandado abaixo de Braga e não sabe o significado da expressão, é melhor não ler as linhas seguintes.
A expressão estará diretamente ligada ao campo das hortas, perto do Arco da Porta Nova e imediatamente fora das antigas muralhas da cidade.

Como se encontra num nível mais baixo relativamente à cidade – isto é, “abaixo de Braga” –, acabaria por levar com as águas residuais e dejetos, tornando-se num local pouco agradável de se estar.
“És de Braga?”

A explicação que recolhe maior aceitação relativamente ao significado da expressão, deve-se ao facto do Arco da Porta Nova nunca ter tido uma porta. À data da construção, as guerras já não se verificavam com a frequência de séculos anteriores e, como tal, a porta foi considerada redundante.
Assim, sempre que alguém deixa uma porta aberta, ouve imediatamente a expressão “és de Braga!”.

Contudo, há quem defenda que a verdadeira explicação da expressão popular não esteja diretamente relacionada com o Arco da Porta Nova. Segundo o Pórtico da Língua Portuguesa, esta expressão típica de Braga poderá dever-se a um arcebispo chamado Lourenço que, depois de destituído do cargo de Arcebispo, foi a Roma convencer o Papa a restituir-lhe o cargo.
Assim, a expressão “és de Braga” seria uma abreviatura da expressão“ és de Braga e chamas-te Lourenço?” e representaria alguém dotado de um poder argumentativo tal, que as portas no seu caminho se abrem naturalmente.

Outras explicações dizem respeito ao espírito comunitário da cidade: para que os vizinhos entrassem sempre que quisessem, os bracarenses deixariam a porta aberta.
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E há mesmo explicações mais metafísicas, como a que fala de um velho sábio que iria a casa das pessoas e pediria que os habitantes deixassem a porta aberta para que ele pudesse arejar o cérebro e dar melhores conselhos.
“Mais velho que a Sé de Braga”

A expressão “mais velho que a Sé de Braga” é outra das expressões típicas de Braga e é aplicada quando se classifica algo de extremamente velho, normalmente num tom hiperbólico.

A justificação por trás da expressão deve-se ao facto da Sé de Braga ser a mais antiga de Portugal, da arquidiocese de Braga ser a arquidiocese mais antiga do país, e naturalmente, da Sé ser de facto bem velhinha, com os seus mais de 8 séculos. No entanto, refira-se que existem construções religiosas mais antigas em Braga como o Mosteiro de Tibães.

A Sé de Braga foi alterada ao longo dos tempos (com 3 estilos arquitetónicos a dominarem em diferentes períodos) e a sua fachada inicial, por exemplo, não contemplava o Galilé atualmente existente.
Autor: Rui Ferreira