O Mistério do Mamute de Beresovka
A descoberta de um mamute semi-ajoelhado, encontrado numa das margens do rio Beresovka, na Sibéria, manteve os cientistas perplexos durante muitos anos.

Surpreendentemente, o monstro perfeitamente congelado e em excelente estado de conservação, tinha na boca ranúnculos botão-de-ouro (Ranunculus repens). Este facto isolado, que a princípio passou despercebido, iria fornecer uma pista sobre um momento terrível da história geológica da Terra.

Os mamutes eram animais peludos e de dentes compridos que apresentavam afinidades com os elefantes, que vaguearam pelo Mundo durante meio milhão de anos e se extinguiram há cerca de 20 000 anos.
Nos territórios permanentemente gelados da Sibéria Setentrional, do Alasca e do Canadá, podem ainda ser encontrados muitos destes antigos animais, em estado de congelação perpétua.

Apesar dos milhares de anos decorridos, a sua carne está ainda em condições de ser consumida – segundo aqueles que a provaram. Os corpos de outros animais, há muito extintos, foram também encontrados no mesmo estado de congelamento, caídos desordenadamente por entre montes de ossos e carne retalhada.

Os cientistas explicaram facilmente esta hecatombe antiga. Manadas imensas de mamutes costumavam percorrer as tundras – vastas planícies árticas, alimentando-se de ervas, caniços e outras plantas que atualmente ainda, durante o Verão, cobrem a terra.
De vez em quando algum animal ficava preso no gelo ou despenhava-se através de uma fenda de glaciar, ficando congelado, pelo que se mantinha em perfeito estado de conservação ao longo dos tempos.
A explicação, que parecia óbvia, era, porém, totalmente errada.

A primeira objeção era o local onde os esqueletos eram encontrados, que não se ajustava à teoria exposta. Vastas áreas do Ártico são cobertas de gelo, mas a maior parte da tundra é composta de terra – areia, lodo dos rios e argila ligados entre si pela água gelada. E os mamutes não foram descobertos no gelo, como seria de supor, mas nas camadas de lodo.
Além disso, durante esse período não havia glaciares na Sibéria, exceto nas zonas superiores das montanhas, onde os mamutes não podiam pastar.

Surgiu nova teoria: os mamutes teriam caído aos rios e sido arrastados pela corrente até às desembocaduras, onde se teriam enterrado no lodo.
Mas tão pouco esta teoria se ajustava à realidade dos factos: os monstros eram encontrados na tundra, onde nunca houvera rios. E não podiam ter-se afogado, porque muitos dos animais mantinham-se ainda de pé, congelados na posição em que haviam morrido.

Foram consultados especialistas no comércio de carne congelada, os quais, porém, em vez de esclarecerem o mistério, tornaram-no ainda mais intrigante.
Segundo declararam, perentoriamente, não havia qualquer possibilidade de congelar um animal de dimensões tão grandes como o mamute à temperatura relativamente moderada do gelo ártico.

A esta temperatura a carne congelar-se-ia lentamente, processo que originaria a formação de cristais nas suas células, que rebentariam desidratando a carne, a qual se tornaria imprópria para consumo, facto que não se verificava.
São necessários 30 minutos para congelar devidamente um costado de vaca a uma temperatura de -40°C. Para congelar um enorme mamute vivo, protegido por uma pele espessa, seriam necessárias, segundo os cálculos dos peritos, temperaturas extraordinariamente baixas, inferiores a -150°C. Tais temperaturas nunca foram registadas de modo natural sobre a Terra, nem mesmo no Ártico.

A razão, constatada por várias provas, parece atestar o absurdo de tal teoria, particularmente evidente através do mamute de Beresovka, que comia junças, ervas e ranúnculos, quando a sua morte se verificou subitamente.
Congelamento súbito

De acordo com o que a experiência de numerosos anos ensinou a muitos jardineiros, os ranúnculos botão-de-ouro preferem condições climatéricas temperadas, com alternância de sol e chuva.
Aparentemente, no entanto, o mamute, que mastigava pacificamente a erva e os ranúnculos que cresciam viçosos ao sol de uma planície temperada, foi repentinamente – segundo asseguraram os especialistas em congelamento – submetido a um frio tão intenso que ficou congelado no local onde se encontrava.

Estes são factos incontestáveis. Os cientistas tinham de explicar como se processara o fenómeno, não apenas no Beresovka, mas em muitos locais em toda a Sibéria Setentrional e no Alasca, onde os gigantescos mamutes ficaram súbita e inexplicavelmente congelados.
Não se conhecia nenhuma variação nas condições climatéricas capaz de explicar o súbito congelamento de um número tão elevado de quadrúpedes, de tão grandes dimensões, e separados entre si por tantos milhares de quilómetros de distância. Só um cataclismo súbito de proporções até agora inimagináveis poderia ter sido a causa do fenómeno.

As provas de que se dispõe sugerem um sismo e uma erupção vulcânica mais violentos do que quaisquer outros registados na História.
A crosta terrestre, cuja espessura está compreendida entre 30 e 100 km e é composta de várias placas que exercem pressão umas contra as outras, flutua sobre o interior, em fusão, do nosso planeta.
Nos locais de encontro de 2 placas produzem-se pressões e fricções violentas de ambos os lados que podem ocasionar erupções vulcânicas e abalos sísmicos.

Pensa-se que a erupção que causou a morte dos mamutes terá sido o resultado da fricção entre 2 placas, em virtude da qual se abriu uma vasta fenda na crosta terrestre.
Frio inimaginável
Numa erupção tão violenta, a Terra não só vomitaria lava ardente do seu interior como se produziria também uma enorme descarga de gases vulcânicos.

Se estes gases fossem lançados a alturas bastante elevadas, até às camadas superiores da atmosfera, seriam congelados a temperaturas assombrosamente baixas.
Depois, durante o cataclismo, descreveriam uma espiral em torno da Terra, descendo finalmente sobre a camada inferior de ar quente, que atravessariam sob a forma de rajadas violentas, nas zonas menos espessas, precipitando-se a velocidades inacreditáveis sobre a superfície da Terra.
Nas zonas atingidas pelos gases verificar-se-iam temperaturas assombrosamente baixas, de -150°C, consideradas necessárias pelos peritos para provocarem o congelamento dos mamutes.

Na Sibéria, o mamute estaria a pastar calmamente na tundra quando se abateu sobre ele um frio tão intenso que imediatamente lhe gelou os pulmões e literalmente transformou o seu sangue em gelo.
Em escassos segundos estaria morto; em poucas horas estaria transformado numa estátua sólida, pronta a afundar-se na terra ao longo dos anos e a ser sepultada pelas poeiras do tempo.

O frio poderia ainda ter sido acompanhado por um vento tão violento que arrastasse num turbilhão todos os seres vivos – mamutes, tigres, leões, rinocerontes lanosos, bisontes e castores – até à encosta de um monte, depositando-os como uma massa gelada, que jazeria para sempre por entre um emaranhado de árvores, pedras e terra.

O quadro é tanto mais terrível quanto é certo que a Humanidade não tem qualquer garantia de que não volte, um dia no futuro, a repetir-se.
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