Morre um idioma a cada 14 dias
Nos últimos 10 anos mais de 100 línguas desapareceram e a cada 14 dias, morre um idioma. Um dano comparável à extinção de uma espécie.

No ano passado, foi assassinada na floresta do norte do Peru Rosa Andrade, de 67 anos, a última mulher falante de resígaro, uma das 43 línguas indígenas da Amazónia.

Tommy George, o último dos kuku-thaypan de Cape York (Austrália), morreu há um ano, no dia 29 de julho, com 88 anos. Tommy George era o último falante de awu laya, uma língua aborígene da Austrália. Com ele morreram 42.000 anos de história e conhecimentos transmitidos de forma oral.
Cristina Calderón (nascida em 24 de maio de 1928) é a última falante nativa da língua yagán, da Terra do Fogo. Hoje vive em Puerto Williams, uma base militar chilena na ilha Navarino.

Nos últimos 10 anos, desapareceram mais de 100 línguas; outras 400 estão em situação crítica e 51 são faladas por uma única pessoa. A cada 14 dias morre uma língua, de acordo com a Unesco. Se continuar assim, metade das 7.000 línguas e dialetos falados hoje no mundo extinguir-se-ão ao longo deste século.
Quando uma língua morre não se perdem apenas as palavras, mas todo o universo cultural ao qual davam forma: séculos de histórias, lendas, ideias, canções transmitidas de geração em geração que desaparecem “como lágrimas na chuva”, junto com valiosos conhecimentos práticos sobre plantas, animais, ecossistemas, o firmamento. Um dano comparável à extinção de uma espécie.

Com Fanny Cochrane, que morreu em 1905, desapareceu a última língua nativa da Tasmânia. Entre 1899 e 1903, ela gravou num dos primeiros fonógrafos as canções aborígenes que conhecia para a Royal Society of Hobart, a capital da ilha australiana. O cantor folk Bruce Watson conta a história dela em The Man and the Woman and the Edison Phonograph (O Homem e a Mulher e o Fonógrafo Edison).
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Com a morte de Yang Huanyi em 2004, aos 98 anos, desapareceu o nushu, um sistema secreto de escrita empregado durante pelo menos quatro séculos, pelas mulheres chinesas para burlar o controle dos homens.
Como muitas mulheres chinesas do seu tempo, Yang Huanyi tinha pés minúsculos e deformados; a prática de amarrar os pés das meninas foi proibida em 1912.

Charlie Mangulda é a última pessoa na Terra que fala e entende o amurdag, língua oral de um grupo de aborígenes do norte da Austrália, como explica neste vídeo K. David Harrison, autor do livro The Last Speakers (Os Últimos Falantes), da National Geographic.
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Harrison, professor de linguística do Swarthmore College, na Pensilvânia (EUA), é um dos responsáveis do projeto Enduring Voices (Vozes Duradouras), da National Geographic. Ele viajou pelo mundo inteiro, da Sibéria e Cáucaso ao norte da Austrália, passando pelo sul do México e as ilhas mais remotas da Indonésia, entrevistando os últimos guardiões de línguas minoritárias em risco de desaparecimento.
Muitas das que estudaram nunca tinham sido gravadas ou colocadas por escrito; outras nem sequer eram conhecidas. Em 2010, documentaram pela primeira vez o koro, língua falada por menos de mil pessoas nas montanhas de Arunachal Pradesh, no nordeste da Índia. Em baixo pode ver Anthony Degio, da tribo koro, explicando o uso que seu povo faz de 11 plantas na região onde vivem.
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Em fevereiro, a equipe do Enduring Voices apresentou os primeiros resultados de seu trabalho, oito dicionários sonoros e visuais de idiomas moribundos como o chemehuevi (Arizona, EUA); o euchee (Oklahoma, EUA); o hupa, o karuk, o wintu e o washoe (Califórnia, EUA); o tuvan (Rússia); o aka (Índia), ou o seri (México). No total, 32.000 palavras salvas do esquecimento.
Com o mesmo objetivo nasceu o projeto Endanged Languages (Línguas Ameaçadas de Extinção), uma iniciativa do Google para dar voz aqueles que as falam e aqueles que se esforçam para conservá-las.
Trata-se de um fórum aberto que oferece a oportunidade de postar arquivos de vídeo, gravações e documentos, e também partilhar conhecimentos e experiências. Neste vídeo do Endanged Languages, a avó Margaret, uma senhora da tribo navajo (Novo México, EUA) explica ao neto, com a ajuda do tradicional jogo de cordel, a origem das constelações, como relata uma antiga lenda indígena.
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Neste outro, uma moradora do vale de Ansó, nos Pireneus de Huesca, narra em aragonês ansotano a história de As Crabitetas (As Cabrinhas). Em Espanha, também estão na lista de línguas ameaçadas o aragonês, o asturiano (ásturo-leonês ou bable) e o gascão do Val d’Aran (Lleida) ou aranês.
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O Atlas das Línguas em Perigo da Unesco catalogou 2.581 línguas, que são mostradas num mapa interativo do Google. Os resultados podem ser filtrados por região geográfica, pelo nome do idioma ou pelo número de pessoas que o falam.
Autor: Isidoro Merino
Fonte:: El Pays
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Ora bem …
Em abono da verdade deve dizer-se que nem tudo o que li nos comentários é totalmente isento de imparcialidade. O que é até agora aceite filologica e linguisticamente é muito claro, e sem fazer apropriaçao do idioma, tal como estão a tentar dizer que foi feito. Aquilo a que alguns chamam galego, e de onde evoluiu o atual português, não era galego nenhum, era galaico-português. E porque, perguntam alguns ? Simples, a Galiza antiga não era o territorio atual, era o território atual MAIS o atual território do norte de Portugal. Assim, esse antigo idioma ( de onde evolui o atual português e o atual galego) era “propriedade” de ambos os povos ( Atual galiza e atual norte de Portugal). Assim, dizer que aquele falar se deveria chamar somente de galego isso sim é apropriação indevida de um nome. Essa língua antiga evolui com a independencia de Portugal, ficou com alguns traços diferentes da língua falada na ATUAL GALIZA, mas ainda assim a mesma língua. Os portugueses cultivaram essa língua, deram-lhe um estatuto de língua oficial, criaram literatura, gramática, etc … espalharam por alguns locais do mundo com o nome de Português. Se me disserem que deveria continuar a chamar-se galaico portugues ( as variantes portuguesa e galega juntas), nada a opor. Mas querer fazer pensar a opinião pública que a língua falada no medievo era galega, não é verdade … essa Galiza não era Galiza, tinha uma grande parte de território que hoje é Portugal. Mais … onde estão as provas que o exato local onde essa antigua língua galaico portuguesa nasceu era no atual território da galiza ? já que essa galiza englobava também o norte de Portugal ? Há que pensar um pouco antes de proferir algumas opiniões. Disse.