Não há em Lisboa quem não pergunte o que significa o obelisco no centro da Praça dos Restauradores, além do seu significado imediato como monumento patriótico inaugurado em 28 de Abril de 1886 como projecto do arquitecto António Tomás da Fonseca. Terá algum significado esotérico ou escondido este monumento? Será obra secreta da Maçonaria Portuguesa? Afinal, o que significa este obelisco e porque está aqui?

Por causa do seu formato, o obelisco é o símbolo do raio do Sol, ligando-se ao mito da ascensão solar e à “luz do Espírito penetrante” por causa da sua posição erecta e da ponta piramidal em que termina. Tendo tido uma importância excepcional na religião do Antigo Egipto que cultuava o Espírito do Sol, representativo de Deus Supremo, o simbolismo do obelisco veio a ser importado daí para a Europa pelas antigas confrarias de construtores-livres reunidas sob o nome genérico Maçonaria. Talhado num único bloco de pedra (monólito), o obelisco condiz até no nome com o seu significado solar, pois deriva do grego obeliskos como diminutivo de óbelos significando “agulha”, como referência ao seu término pontiagudo.

Por simbolizar o raio do Sol, o obelisco serve como pólo de atracção da energia celeste que se fixa na Terra através da sua forma pontiaguda. Por isto representa a força criadora e a estabilidade que possuía o deus solar Ra no Antigo Egipto, cuja expressão seria tomada entre os cristãos como Deus Todo-Poderoso. Tal como os egípcios acreditavam que os raios do Sol levavam até ao túmulo um grande poder vivificante que teria efeito extraordinário na posterior ressurreição do defunto, também neste obelisco dos Restauradores havia a crença mítica na ressurreição de Portugal no sentido de independência dos grilhões da escravatura do jugo espanhol de que se libertou em 1 de Dezembro de 1640.

O obelisco era considerado com a petrificação do raio solar, acreditando-se que a Divindade animava ou existia dentro da estrutura. Esta crença egípcia seria adoptada pela Maçonaria depois de 1717, chegando a dizer o maçom Albert Pike no seu livroDogma e Moral: “Daí a importância do obelisco, erguido como um emblema da ressurreição da Divindade enterrada”. Foi assim que os maçons passaram a ter o obelisco como símbolo da Fraternidade Interna Invisível ou Espiritual, a mesma que a Igreja chama Comunhão dos Santos e outros de Grande Fraternidade Branca.

O simbolismo solar deste obelisco nos Restauradores, com 33 metros de altura, é ainda representado pelo Anjo da Luz, que vai bem com a natureza astrolátrica do monumento, ou seja, o Génio da Independência, obra do escultor Alberto Nunes, e que é o próprio Prometeu liberto dos grilhões que o escravizavam, neste caso particular, incarnando a alma liberta de Portugal do jugo Filipino no século XVII. Essa estátua de bronze é completada no significado por outra no lado oposto, a Vitória, escultura de Simões de Almeida. A escolha do metal bronze é também muito significativa, pois entre os antigos egípcios era considerado como a “carne dos deuses”, juntamente com o ouro que aqui figura só no Sol de Lisboa. Fica assim revelado o segredo deste singular Obelisco dos Restauradores.