_
Ora, façamos uma pequena viagem pelas línguas que levamos no bolso…
- BCE — Estamos em primeiro lugar! Mas, no mesmíssimo local, temos todas as outras línguas latinas. Na verdade, a ordem segue a ordem oficial dos países, que se baseia na ordem alfabética dos nomes na respectiva língua oficial. Ora, a Bélgica está em primeiro lugar — e, por algum passe de magia protocolar, o francês avança à frente do neerlandês e do alemão, as outras línguas da Bélgica. E, com o francês, seguem as línguas latinas — em todas, o nome do banco é representado por esta sigla. Curiosamente, temos também aqui o irlandês, língua em que o nome do banco é «Banc Ceannais Eorpach».
- ECB — Agora, segue-se o neerlandês («Europese Centrale Bank»), mas também o checo, o dinamarquês, o inglês, o letão, o lituano, o esloveno, o eslovaco e o sueco. Perguntará o leitor: o esloveno e o eslovaco, com nomes tão próximos, serão línguas parecidas? Pelo exemplo, parece que sim: «Evropska centralna banka» (esloveno) e «Európska centrálna banka» (eslovaco). Mas não cheguemos a conclusões com três palavrinhas apenas…
- ЕЦБ — O búlgaro dá-nos aqui o único cheiro de letras que não sabemos pronunciar. A segunda letra é, habitualmente, transliterada como «c» (e lê-se «ts») e a última como «b». Transformando no nosso alfabeto, teríamos algo como «ECB». Ou seja, a sigla anterior.
- EZB — Chegámos à língua que mais cidadãos europeus têm como materna: o alemão. A sigla representa duas palavras: «Europäische Zentralbank».
- EKP — Aqui, temos duas línguas próximas, mas isoladas de todas as outras: o finlandês («Euroopan keskuspankki») e o estónio («Euroopa Keskpank»). São dois exemplos desse bicho raro: línguas europeias que não têm uma origem indo-europeia comum. Outros exemplos serão o húngaro e o basco.
- ΕΚΤ — Não parece, mas esta sigla está noutro alfabeto: o grego. O nome do banco, por lá, é este: «Ευρωπαϊκή Κεντρική Τράπεζα». O leitor perdoará que não faça a transliteração. Afinal, o significado é óbvio…
- EKB — Outra das línguas não indo-europeias: o belo húngaro. Aqui temos a expressão completa: «Európai Központi Bank».
- BĊE — Não fosse o pontinho por cima do «C» e o maltês iria directamente para o grupo das línguas latinas e do irlandês, ali logo à entrada. Mas, não, a sigla certa é mesmo «BĊE». O som que esta letra representa é o «tch». Curiosamente, o maltês não tem a letra «C» sem ponto. Não estranhemos assim tanto: o nosso «i» também tem sempre uma pinta. Em maltês, para lá do «i», também o «ċ» é sempre pintado…
- EBC — A última língua é o polaco: «Europejski Bank Centralny».
Disse que faltava uma língua… Se quiser encontrá-la, pegue numa nota de 50 euros:
Conte as siglas. São 10 — enquanto, na nota de 5, são apenas nove. O que se passou? Bem, entre a emissão da segunda série das notas de 5, 10 e 20 euros e a emissão da nota de 50, entrou um novo país na União Europeia: a Croácia.
Assim, ali entre o grego e o húngaro, lá temos o croata, língua em que o banco se chama «Europska središnja bank». No meio, temos aquele «š» a chamar-nos para mais aventuras pelas estranhas letras das outras línguas.
Uma língua em falta
A União Europeia faz este esforço louvável de tentar dar a mesma dignidade às línguas dos seus cidadãos: do maltês ao inglês, estão ali todas, por ordem alfabética do nome dos respectivos países. Os tratados e a legislação também são publicados nas vinte e quatro línguas oficiais.
Todas? Bem, aqui mesmo ao lado, temos uma língua muito europeia — já se falava por cá ainda os indo-europeus mal sabiam onde era a Europa — que não aparece nas notas.
Falo do basco.
Espanha informou a União Europeia que a sua língua oficial é o espanhol. No entanto, aqui no reino do lado, há uns quantos milhões de europeus que têm outras línguas maternas, para lá do castelhano. Ora, enquanto os galegos e catalães podem olhar para as notas e ver ali as suas siglas na posição comum das línguas latinas, os bascos não encontram o seu idioma no dinheiro que usam. Em sua honra, deixo aqui o nome do banco em basco: «Europako Banku Zentrala».
E assim fizemos uma viagem à volta do nosso bolso…
Autor: Marco Neves
Autor dos livros Doze Segredos da Língua Portuguesa, A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa e A Baleia Que Engoliu Um Espanhol.
Saiba mais nesta página.
Mais artigos que talvez lhe possam interessar:
Qual é a língua mais antiga do mundo?
Conheça as 10 Línguas de Portugal
As 10 línguas mais faladas do mundo
_
Europako Banku Zentrala»