Língua Portuguesa: origem e significado de 6 Expressões Populares
Cair da tripeça e ficar a ver navios é uma verdade de La Palisse. Isto é a língua portuguesa. Aprenda origem e significado de 6 Expressões Populares.
Uma expressão idiomática ou idiotismo pode-se definir como uma locução ou modo de dizer de uma determinada língua e que é impossível de traduzir literalmente noutras línguas.
As expressões idiomáticas são demonstrações espontâneas da criatividade, do humor e da beleza de qualquer língua. Não tendo uma utilidade particular, as expressões idiomáticas criam imagens que captam a sensibilidade e a emoção dos falantes, podendo ainda facilitar a memorização.
Exemplos de expressões idiomáticas da língua portuguesa:

Ter ouvidos de tísico
Significado: Ouvir muito bem.
Origem: Antes da II Guerra Mundial (l939 a l945), muitos jovens sofriam de uma doença denominada tísica, que corresponde à tuberculose. A forma mais mortífera era a tuberculose pulmonar.
Com o aparecimento dos antibióticos durante a II Guerra Mundial, foi possível combater esta doença com muito maior êxito.
As pessoas que sofrem de tuberculose pulmonar tornam-se muito sensíveis, incluindo uma notável capacidade auditiva. A expressão «ter ouvidos de tísico» significa, portanto, «ouvir tão bem como aqueles que sofrem de tuberculose pulmonar».

Ficar a ver navios
Significado: esperar algo que não vem, não acontece, não aparece.
Origem: Deriva da atitude contemplativa de populares, que se instalavam nos lugares mais altos da cidade à espera de que uma lenda se tornasse realidade.
Eram os portugueses que ficavam a ver navios, na esperança de que um dia voltasse à pátria o rei D. Sebastião, protagonista da batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos, em que tropas lusitanas e marroquinas travaram violento combate em 1578. Após o desaparecimento de Dom Sebastião na luta, difundiu-se a crença que um dia regressaria a Portugal, para levar o país de volta a uma época de conquistas.
Multidões que frequentavam o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, confiantes no regresso do rei, ficavam a ver os navios que chegavam.
Outra explicação desta expressão prende-se com as invasões francesas e a partida da família real para o Brasil. Teriam as tropas francesas que se dirigiam à capital ainda vislumbrado a sua partida do alto de uma das colinas de Lisboa, e daí a expressão ficaram a ver navios, a partirem, literalmente, falhando na captura da família real.

Cair da tripeça
Significado: Qualquer coisa que, dada a sua velhice, se desconjunta facilmente.
Origem: A tripeça é um banco de madeira de três pés, muito usado na província, sobretudo junto às lareiras. Uma pessoa de avançada idade aí sentada, com o calor do fogo, facilmente adormece e tomba.

Fazer tábua rasa
Significado: Esquecer completamente um assunto para recomeçar em novas bases.
Origem: A tabula rasa, no latim, correspondia a uma tabuinha de cera onde nada estava escrito. A expressão foi tirada, pelos empiristas, de Aristóteles, para assim chamarem ao estado do espírito que, antes de qualquer experiência, estaria, em sua opinião, completamente vazio.
Também John Locke (1632 1704), pensador inglês, em oposição a Leibniz e Descartes, partidários do inatismo, afirmava que o homem não tem nem ideias nem princípios inatos, mas sim que os extrai da vida, da experiência.
«Ao começo», dizia Locke, «a nossa alma é como uma tábua rasa, limpa de qualquer letra e sem ideia nenhuma. Tabula rasa in qua nihil scriptum. Como adquire, então, as ideias? Muito simplesmente pela experiência.»

Ave de mau agouro
Significado: Diz-se de pessoa portadora de más notícias ou que, com a sua presença, anuncia desgraças.
Origem: O conhecimento do futuro é uma das preocupações inerentes ao ser humano. Quase tudo servia para, de maneiras diversas, se tentar obter esse conhecimento. As aves eram um dos recursos que se utilizava.
Para se saberem os bons ou maus auspícios (avis spicium) consultavam-se as aves. No tempo dos áugures romanos, a predição dos bons ou maus acontecimentos era feita através da leitura do seu voo, canto ou entranhas.
Os pássaros que mais atentamente eram seguidos no seu voo, ouvidos nos seus cantos e aos quais se analisavam as vísceras eram a águia, o abutre, o milhafre, a coruja, o corvo e a gralha. Ainda hoje perdura, popularmente, a conotação funesta com qualquer destas aves.

Verdade de La Palisse
Significado: Uma verdade de La Palice (ou de La Palisse) é evidência tão grande, que se torna ridícula.
Origem: O guerreiro francês Jacques de Chabannes, senhor de La Palice (1470-1525), nada fez para denominar hoje um truísmo. Fama tão negativa e multissecular deve-se a um erro de interpretação.
Na sua época, este chefe militar celebrizou-se pela vitória em várias campanhas. Até que, na batalha de Pavia, foi morto em pleno combate. E os soldados que ele comandava, impressionados pela sua valentia, compuseram em sua honra uma canção com versos ingénuos:
“O Senhor de La Palice / Morreu em frente a Pavia; / Momentos antes da sua morte, / Podem crer, inda vivia.”
O autor queria dizer que Jacques de Chabannes pelejara até ao fim, isto é, “momentos antes da sua morte”, ainda lutava. Mas saiu-lhe um truísmo, uma evidência.
Segundo a enciclopédia Lello, alguns historiadores consideram esta versão apócrifa. Só no século XVIII se atribuiu a La Palice um estribilho que lhe não dizia respeito. Portanto, fosse qual fosse o intuito dos versos, Jacques de Chabannes não teve culpa.
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Se estiverem interessados em conhecer mais algumas, poderão vê-las em https://mitologia.blogs.sapo.pt/tag/express%C3%B5es .
Já li aqui q “ficar a ver navios” foi o q aconteceu com o Gal. Jean Janot ao chegar a Lisboa por conta da Revolução Francesa, não encontrou a família real, viu só ao longe os navios com ela a caminho do Brasil.