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Quando o suspeito não morria no interrogatório, quase sempre acabava por confessar. Julgado e condenado, saía então no auto-da-fé, o momento alto de afirmação do poder do Santo Ofício.

As penitências iam desde os açoites à condenação às galés, da prisão ao degredo, passando pelo uso do hábito penitencial, o sambenito, até à execução pelo fogo.

O primeiro auto-da-fé em Portugal realizou-se em Lisboa, em 20 de Setembro de 1540. O último também foi em Lisboa, em 1766, mas não teve execuções: o último queimado vivo foi o padre jesuíta Gabriel Malagrida, em 1761, condenado por blasfémia, por dizer que o terramoto de 1755 tinha sido castigo divino.
A partir do século XVIII, os defensores da filosofia das Luzes criaram uma “lenda negra” à volta da Inquisição, que exagerou o número de vítimas e atribuiu em exclusivo à Igreja Católica a responsabilidade pela sua ação, o que não é rigorosamente verdade.

A Inquisição tinha um duplo estatuto: era um tribunal eclesiástico, mas também um tribunal da coroa. Nos casos mais graves, os condenados eram “relaxados em carne ao braço secular” – a Igreja não matava, isso cabia aos tribunais civis.
Em Portugal continental, se dividirmos o total de relaxados (1865, segundo o historiador Francisco Bethencourt) pelo número de anos que durou a Inquisição, entre 1536 e 1821 (285), obtém-se a média de 6,5 condenados à morte por ano – bem longe da hecatombe que a “lenda negra” dá a entender.

Portugal pagou caro a Inquisição. Muitas das melhores cabeças e dos burgueses mais empreendedores fugiram e puseram o seu saber e os seus bens ao serviço de outros países, como a Holanda.

Entre os réus mais célebres da Inquisição em Portugal contam-se o médico Garcia de Orta, o humanista Damião de Góis, o sapateiro-profeta Bandarra, o padre António Vieira, o dramaturgo António José da Silva, o escritor Cavaleiro de Oliveira e o poeta Bocage.
O Brasil nunca teve um tribunal oficialmente instalado, mas a Inquisição atuou através de seus agentes – comissários e familiares, auxiliados pelo clero local, principalmente jesuítas.
A Inquisição promoveu perseguições em diversas regiões do Brasil, principalmente na Baía, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraíba, Maranhão, Minas Gerais, Goiás.
No Brasil foram presos 1076 pessoas, dos quais vinte e nove receberam sentença de morte, sendo os acusados de Judaísmo, os únicos a morrerem na fogueira.
Autor: J. Ferreira
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