O nosso país tem uma longa história. São quase 900 anos com diversas personalidades a adquirirem protagonismo. Há ilustres figuras que ficaram para a história pelos seus feitos que contribuíram para o desenvolvimento de Portugal: reis, guerreiros, navegadores, entre outros.
Ao longo dos quase 9 séculos de existência do nosso país, também surgiram pessoas que se destacaram pela negativa, sendo responsáveis por atos criminosos que lhes deram alguma fama.
Já ouviu falar de Giraldinha? Esta mulher teve uma vida surpreendente, que seguramente daria um bom filme. Hoje vamos conhecer a história de Giraldinha, uma personalidade fascinante com um vasto registo criminal entre 1883 e 1894.

Maria Rosa é o nome verdadeiro de Giraldinha. Pode dizer-se que era uma rosa cheia de espinhos. Esta mulher tornou-se na ladra mais famosa do século XIX. Giraldinha passou parte da sua vida na cadeia, tendo sido responsável por vigarices e furtos comuns, mas também por golpes originais. Por isso, ganhou fama de Portugal ao Brasil.
Ela tornou-se numa vedeta que, apesar dos incontáveis golpes e das numerosas detenções, conseguiu granjear a simpatia do público (exceto dos que foram vítimas dos seus esquemas). Giraldinha manteve aquele ar de menina simples da província, que parecia não fazer mal a uma mosca… No entanto, a vida de Maria Rosa revelou-se bem diferente. Ela foi responsável por uma série de equívocos e embustes. Ela foi protagonista de um conjunto de situações em que o que parece, afinal, não é.
De Giraldinha diz-se muito, mas o problema é que, quando se mente muito, torna-se difícil compreender onde termina a verdade e começa a invenção. Ela foi uma mestre na arte do improviso e, em cada contexto, ela procurava sempre encontrar uma saída que lhe permitisse obter vantagem sobre as “vítimas” ou mesmo sobre a própria polícia. Ela era rápida de raciocínio e de trato cativante. No entanto, foi apanhada várias vezes.
No dia 4 de agosto de 1885, Giraldinha foi presa a primeira vez. Segundo surge nos livros oficiais, Maria Rosa tinha apenas 17 anos. Nessa altura, ainda não tinha Giraldinha como alcunha. Segundo a polícia, ela “andava na vadiagem”, o que lhe valeu oito dias de cadeia. Dois anos antes, Maria Rosa veio da Guarda, destinando-se a servir em casa de lisboetas.

Giraldinha tinha um ar de menina. Por isso, quando ela foi apanhada pela segunda vez, o chefe da polícia optou por reenviar Maria Rosa à família em vez de a colocar atrás das grades. No entanto, os seus pais não quiseram saber dela. Por isso, ela teve de ficar em Lisboa. A cadeia do Aljube passou a ser a morada mais regular de Giraldinha.
Ela passou muito tempo atrás das grades, mesmo após 1895, quando casou no presídio. Por esse momento, deu-se a notícia de “Amor de condenados” do outro lado do Atlântico. Esse foi o título escolhido pelo “Jornal do Recife” para a notícia do dia 12 de fevereiro de 1899. Nesse texto, é possível ler:
“Ultimamente realizou-se em Lisboa um casamento interessante. Foi na cadeia do Limoeiro. A noiva era uma conhecida gatuna, chamada Giraldinha; o noivo o Bailhão, havia chegado em pouco tempo da África, onde cumprira pena. Casados, a noiva recolheu-se à cadeia do Aljube onde está acabando de cumprir dois anos de prisão. Findo eles é que irão gozar a lua-de-mel. E como saberá bem esta”.
O casamento de Maria Rosa, realizado na prisão, foi mais um momento que lhe deu fama. Ele celebrou-se nos jornais. Por isso, foi como se se tratasse do casamento de uma artista conhecida. Maria Rosa deu várias entrevistas.
Nas saídas do Aljube, Giraldinha dizia frequentemente “Adeus gentes. Até muito breve. Cá virei matar saudades”. Da sua boca, que estava habituada à mentira e ao logro, escapava-se uma verdade. Ao longo da sua vida, Giraldinha esteve quase sete anos em clausura. Foram 2552 dias de prisão. Ela foi sujeita a 21 detenções.
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Giraldinha foi retratada como uma criatura “predestinada para a carreira do crime”. Sobre ela, não se lhe conhecem delitos de sangue. Ao contrário da maioria das mulheres da sua condição, ela destacou-se por se recusar a enveredar pela prostituição.
Para ela, era muito mais aliciante palmar o alheio! Era a roubar que ela ganhava a vida. Ela fazia roubos e furtos. Tanto aproveitava uma peça de fazenda que se encontrasse à porta de uma loja, como desviava uma carteira. Tanto acolhia uma joia cujo proprietário estivesse distraído, como se fazia passar por uma futura vizinha, para entrar em casa de alguém.
A sua criatividade era a sua arma. Ela até chegou a fingir que era perseguida por um marido violento. A arte da sua conversa era um meio de chegar a um fim. Ela tinha lábia e sabia como ganhar a confiança. Lia bem as pessoas e sabia encontrar forma de levar consigo alguns pertences valiosos. Assim, muitas vezes, a pessoa enganada nem percebia logo que tinha ficado privada de algo.
Curiosamente, a morte de Giraldinha foi anunciada diversas vezes… por engano.
Gostei demais do Homem que foi freira, e Giraldinha rainha das vigaristas.