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Os Descobrimentos correspondem, pois, a uma Revolução Geográfica, que alterou radicalmente a relação do Homem com o planeta. Os seres humanos apreenderam, finalmente, qual era a configuração da Terra e abriram novas vias de circulação. O Atlântico, que fora uma barreira até ao século XV, a partir de Quinhentos tornou-se no grande eixo das comunicações inter-continentais. E homens, animais, plantas, objectos e ideias cruzaram o mundo em todas as direcções. Hábitos localizados em áreas restritas do Globo foram-se generalizando, lenta mas irreversivelmente, como sucedeu, por exemplo, com o consumo do açúcar, da pimenta e da canela, do gengibre e do cravo, do tabaco, do café, do chocolate, do chá, do algodão e das porcelanas ou com a utilização de armas de fogo.
O mundo nunca mais foi o mesmo desde que Gil Eanes passou o cabo Bojador, em 1434, mas Portugal começara a mover-se antes – há 600 anos com a tomada de Ceuta
Os Portugueses foram os pioneiros deste movimento globalizador. Iniciaram-no e foram um dos seus actores principais nos séculos seguintes. Seguiu-se-lhes Castela, no final do século XV, e a partir do século XVII as potências do Norte da Europa criaram os seus próprios impérios coloniais.
De facto, o mundo nunca mais foi o mesmo desde que Gil Eanes passou o cabo Bojador, em 1434, mas Portugal começara a mover-se antes – há 600 anos com a tomada de Ceuta, a sua primeira conquista fora do seu rectângulo peninsular. E em 1515, estavam montados os alicerces de um império pluri-continental, de escala quase planetária, quando faleceu Afonso de Albuquerque, à vista de Goa – foi há 500 anos.
É sobre estas duas efemérides e a sua importância para a definição do Portugal contemporâneo que se debruça este texto.
Tudo começou com a conquista de Ceuta
A conquista de Ceuta, a 21 de Agosto de 1415, foi, sem dúvida, o acto fundacional da Expansão Portuguesa e deu origem a um secular império pluri-continental.
Nos anos seguintes a coroa incorporou definitivamente o arquipélago da Madeira nos seus domínios (1419-1425) e localizou de vez as ilhas dos Açores (1427), que logo ficaram sob a sua alçada política. Nenhum príncipe da cristandade, incluindo o rei de Castela, se opôs à tomada destes espaços insulares pelos Portugueses, o que evidencia uma percepção generalizada entre os Europeus de que Portugal era uma potência marítima, cujo espaço natural se estendia às águas adjacentes. Podemos dizer, assim, que Portugal se completou nos anos de 1415-1430, tendo então adquirido a configuração natural que perdurou até aos nossos dias. Só depois é que Gil Eanes venceu o cabo Bojador, e o país se estendeu para lá dos seus limites naturais e iniciou a aventura dos Descobrimentos.
Deste modo, o período que medeia entre 1415 e 1434, embora corresponda ao início da Expansão marítima – um ponto de partida, para uma nova fase da História de Portugal – também deve ser encarado como a fase de conclusão da definição territorial do próprio Portugal – o ponto de chegada do processo histórico iniciado por D. Afonso Henriques (r. 1143-1185) no longínquo século XII.
Quando Portugal ganhou a independência ao rei de Leão e Castela, o seu território era pequeno e estava confinado ao finisterra da cristandade. Além da sua pequenez, a monarquia lusa estava isolada entre o mar oceano, as lanças mouras e os apetites hegemónicos do vizinho leonês. No século XII, era raríssima a navegação que passava ao largo da costa portuguesa.
Quando Portugal ganhou a independência ao rei de Leão e Castela, o seu território era pequeno e estava confinado ao finisterra da cristandade. Só as terras a norte do Mondego estavam seguras e Leiria era um bastião fronteiriço em luta permanente com as hostes muçulmanas. O território do novo reino seria menos de metade da superfície do espaço peninsular contemporâneo. Além da sua pequenez, a monarquia lusa estava isolada entre o mar oceano, as lanças mouras e os apetites hegemónicos do vizinho leonês que sempre desejou reaver o antigo condado portucalense.
O mar ganhou de imediato uma importância crucial para o jovem reino luso, e os príncipes do Norte europeu cedo se aperceberam que o Oeste peninsular tinha uma nova configuração política.
No século XII, era raríssima a navegação que passava ao largo da costa portuguesa, pois as cidades cristãs do Mediterrâneo não comunicavam por mar com as urbes do Norte da Europa, e as rotas mercantis islâmicas também eram predominantemente terrestres. O mar servia apenas pequenas comunidades piscatórias, mas a independência face a Leão criou desde logo uma nova necessidade, pois era fundamental abrir linhas de comunicação com os outros reinos e principados da cristandade, livres da interferência leonesa. Assim, o mar ganhou de imediato uma importância crucial para o jovem reino luso, e os príncipes do Norte europeu cedo se aperceberam que o Oeste peninsular tinha uma nova configuração política. A conquista de Lisboa, em 1147, contou com a ajuda de soldados do Norte que iam para a 2ª Cruzada, e nos anos seguintes, desenvolveram-se trocas comerciais, ainda que incipientemente, mas começaram a definir-se linhas estratégicas duradouras.
O reinado de D. Afonso Henriques foi marcado pelo avanço definitivo da linha de fronteira para o vale do Tejo e pela primeira ocupação de terras alentejanas; fracassada a tentativa de alargar os domínios lusos para oriente, em direcção à Andaluzia, como teria sucedido se depois da tomada de Trujillo, se tivesse conquistado Badajoz (1169), o rei Fundador, idoso e debilitado pelo acidente grave que sofreu, teve de conter o genro leonês ao mesmo tempo que enfrentava a reunificação do Al-andaluz pelos Almóadas. Ainda assim, o monarca também organizou as coisas do mar e a sua esquadra, comandada por D. Fuas Roupinho, terá andado pelo estreito de Gibraltar, ao mesmo tempo que a diplomacia lusa urdia as primeiras ligações com as potências do Canal da Mancha, o que levou mesmo ao casamento da infanta D. Teresa com Filipe da Alsácia, conde da Flandres.
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