Juízes analfabetos, dinheiro para estradas desviado, são histórias mirabolantes mas reais. Casos verídicos da história de Portugal que parecem anedotas.

Os vivas a Dona Carlota
De Janeiro de 1829 a Maio de 1933 esteve à frente da prisão na Torre de S. João da Barra o bronco oficial Teles Jordão.
Enquanto davam pontapés nos demónios situados no corpo dos presos, gritavam palavras de ordem, como: “Viva a Dona Carlota Joaquina” e “ Morra D. Pedro e à puta que o pariu”!
Ora, a puta era a mesma a que davam vivas!

O regresso dos Jesuítas
Expulsos pelo Marquês de Pombal em 3/9/1759, os Jesuítas regressaram em 1829 pelas mãos do Rei D. Miguel e de D. Carlota Joaquina. Já antes, em 1816, o Papa Pio VII os tinha oferecido a Portugal, mas foram recusados pela boca do ministro António de Araújo.
Os Jesuítas são um bom exemplo da Infalibilidade Papal, pois aqui como noutros assuntos, estão sempre a dar o dito por não dito: Extintos pela bula “Dominus ac Redemptor” do Papa Clemente XIV a 21/7/1773, a Rússia não aceitou esta bula, pelo que eles refugiaram-se na Rússia e aí se “reproduziram”.
Mais tarde, o papa foi envenenado e Pio VIII, na bula “De Catholic Fides”, de 7/3/1801, recriou a extinta companhia. Os Jesuítas tinham grande poder por serem, em regra, os confessores da amante do rei, e depois do próprio rei.
O caso de maior sucesso foi o do jesuíta Nithard, confessor da rainha Mariana de Áustria, mulher de Filipe IV de Espanha, que além de confessor compartilhava a cama. Mas foi um caso excepcional.
Diga-se que se os Jesuítas não aconselhassem e evitassem o casamento de D. Sebastião, provavelmente Portugal nunca teria sido parte de Espanha.

O dinheiro dos cristãos-novos
Numa carta do inquisidor-geral Fernando de Mascarenhas a Filipe III, conta ter ficado com os bens de uns “conversos” por saber, de antemão, que o rei, a exemplo dos seus antecessores, os repudiava, por serem “cousa de gente empestada”.
Os bens dos cristãos-novos sujavam as mãos dos reis mas não dos inquisidores! Olha a lata!

O pai de D. Miguel
O erário público pagava a um Apontador para apontar as datas do acasalamento real, mas ele tinha pouco trabalho. Isso não impedia D. Carlota Joaquina de ter filhos com regularidade e, ao mesmo tempo, advogar inocência e dizer que era fiel a D. João VI, gerando assim filhos de imaculada Conceição!
No caso de D. Miguel, havia cerca de 2 anos que D. João VI não acasalava com a sua mãe. Mas uma coisa é saber-se que não era pai, outra é dizer quem era o pai, porque D. Carlota Joaquina não era fiel nem ao marido nem aos amantes!
Apesar de incerto, apontaram para o 6º Marquês de Marialva, D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho, por estar na lista daqueles a quem a rainha dava favores noturnos e, por vezes, diurnos.
A dar substância a esta especulação está o facto de D. Miguel gostar de tourear (como todas as coisas tradicionais, dado ser avesso a tudo o que era novo), o Marquês ser o último de uma linhagem de toureiros e o seu avô, D. Pedro de Alcântara de Meneses, ter sido autor de um sistema de equitação taurina que cobrou o nome de Marialva!
Outros pais possíveis, na lista de Laura Permon, mulher do embaixador Junot em Portugal, são, segundo uns, um moço da cavalariça da rainha e segundo outros, um médico de Lisboa.

O marialva e o rei
Em 1807, o 6º Marquês de Marialva (um dos possíveis pais de D. Miguel) foi enviado a França como embaixador. A única coisa de realce que faz foi pedir a Napoleão a destituição do Rei que o enviara e a investidura de outro rei, à escolha de Napoleão!
Pouco depois, as tropas de Junot invadiam Portugal… Pode-se pensar em traição ao rei, mas provavelmente a sua nomeação como embaixador foi a paga pelos serviços de cama à mulher… e a destituição do rei era um serviço à rainha…
Quanto a D. João VI, como não podia deixar de ser, perdoou esta traição ao Marialva, e em 1814 aí estava ele de novo em Paris, como embaixador!

A inquisição e os mortos
A Inquisição não limita a sua jurisdição apenas aos vivos e aos mortos nos cárceres, mas estende-a, frequentemente, a pessoas mortas muitos anos antes de terem sido acusadas de qualquer crime de vulto.
Neste caso, desenterram-nas, julgam-nas (e quem cala consente) e se são condenadas queimam-lhes os ossos em auto-de-fé, confiscando-lhes os bens para o que despojam, meticulosamente, os seus herdeiros (M. Dellon, Relation de l’Inquisition de Goa, cit. VB-17)
Padre queixa-se que paroquianos não morrem
O padre de Sagres tinha emolumentos funerários, mas os paroquianos não morriam, como ele próprio se queixa, numa carta escrita em 1573!_
O analfabetismo da nossa tropa
O Regulamento Militar do Conde de Lippe, de 18/1/1763, impunha que o sargento tinha de saber ler, escrever e contar, para prevenir que os oficiais, por serem nobres, fossem analfabetos.

Justiça de D. João V
Carl Ruders conta-nos na sua carta de 30/3/1799, como era a Justiça neste tempo, quando um juiz absolve uma ama que matou 36 crianças a seu cargo com o fundamento que “se Deus lhe perdoou 35 vezes, não era fora de propósito que os homens lhe perdoassem uma”.
Uma história verídica aconteceu no fim do reinado de D. José I, quando uma ama de criação foi condenada à morte, em Coimbra, por ter assassinado 33 crianças abandonadas que lhe tinham sido entregues a troco de subsídio, pelas instituições de assistência!

Os marcos da rainha D. Maria I
No início do reinado da Rainha D. Maria I projetaram-se algumas estradas e começaram a ser construídas, mas em estilo insólito! Único no mundo!
Em vez de se começar pelas estradas em si, começou-se pelos marcos! Maravilhosos! Colunas monumentais, talhadas em fino mármore, providas de altaneiros relógios de Sol! Lindíssimos!
Quanto às estradas… o dinheiro foi desviado pela rainha! Os 16 milhões de cruzados foram aplicados no novo Convento da Basílica da Estrela! Os reis portugueses sempre aplicaram mais o dinheiro nas estradas para o céu do que nas terrestres…

Os sinos de D. João III
Em 1529 o Rei D. João III enviou um carregamento de cobre à Dinamarca, para fundição de sinos, contudo, foi roubado por protestantes que andavam às avessas com os dinamarqueses.
O rei D. João IIII ficou furioso e os luteranos, por estranho que pareça, enviaram sinos… de igrejas de Copenhaga! O rei ficou desconfiado da virtude dos sinos, mas os luteranos disseram que dinheiro e cobre havia pouco, pelo que sinos não havia outros.
Assim sendo, o Rei D. João III concordou em ficar com os sinos dinamarqueses, mas como depósito, e não como proprietário! Assim, quando a Dinamarca se tornar católica, os sinos serão devolvidos!

A potência do rei Afonso VI
O Rei D. Afonso VI era tão parvo que não conseguia arranjar mulher para si, excepto nos prostíbulos lisboetas, pelo que foi o Marquês de Sande (D. Francisco de Melo) a ir buscar mulher, D. Maria Francisca Isabel, na Casa de Sabóia (cujo brasão está no Paço real de Sintra).
Chegada a 2/8/1666 a Lisboa, já casada, pede nos Tribunais Eclesiásticos a anulação do casamento, em 22/11/1667, com o fundamento na sua não consumação, por o rei ser impotente.
Formaram-se 2 partidos em Portugal: o da potência e o da impotência! Os partidários da impotência admitiam o rei gostar da caça, mas que depois não era capaz de comê-la. Acrescentavam que a paralisia infantil não lhe colheu, apenas os membros do lado direito.
Os partidários da potência apontavam a frequência dos prostíbulos e a informação da rainha ir dar um filho! A certa altura, para desempatar, os defensores da potência avançaram com um exame médico à virgindade da rainha!
Prevendo o mau resultado, opuseram-se ao exame, dizendo que o véu himenal é o selo de garantia com que o criador especializou a fêmea do homem e que o rompimento desse selo pelos dedos do examinador constituía uma forma grosseira, artificial e indigna de rasgar tal marca de autenticidade (VB-176/7)
O Papa Clemente IX deu a dispensa por motivo de impotência de Afonso VI, apesar do avançado estado de gravidez da rainha!
Comenda da Torre e Espada para amantes da mulher
No Brasil, o nosso rei D. João VI recompensava os amantes da mulher com a comenda de Torre-e-Espada, mas não podendo dizer o porquê da condecoração, escrevia dos “justos e particulares motivos que tenho presentes”

Os portugueses descendentes do Papa
O Papa Inocêncio XIII (1721-1724), Miguel Ãngelo de Conti, estando em Lisboa como núncio, aqui deixou a sua semente sagrada. Carlos de Merveilleux, médico e naturalista, desculpou o núncio apostólico pelo facto de “o calor do clima não permitir que se viva privado de mulher” (VB-180+183)
É curioso notar que não se fala deste papa no livro A Vida Sexual dos Papas de Nigel Cawthorne! Talvez por Portugal estar tão esquecido neste canto da Europa!
Os juízes analfabetos
Só por Alvará de 13 de Janeiro de 1642 se proibiu que os analfabetos fossem juízes! Já muito antes, nas cortes de Leiria/Santarém de 1433, os concelhos pediram sem sucesso que os corregedores fossem homens letrados, discretos e competentes em matéria de direito, bem como nas cortes de Évora de 1481-82 (VB-224)
Do mesmo modo, muitos padres eram analfabetos, incluindo muitos papas – o que não deve causar espanto porque não se lia a Bíblia que, ainda por cima, era escrita em Latim.
As visões da Virgem
Muita gente (sã e fidedigna) viu a Virgem, acompanhada de uma catrefada de anjos, com uma bandeira com a legenda: “Longa vida a D. Miguel, rei sagrado”!
A “Infalibilidade Papal” só existe quando o Papa fala ex cathedra e é geralmente para pronunciar um dogma, não é por dá cá aquela palha.