Casal brasileiro emigrou para Portugal com 100€ no bolso e encontrou a felicidade. Incrível esta história de vida, de coragem e de amor.

Com 100€ no bolso, casal brasileiro emigrou para Portugal
Vou iniciar com uma introdução básica da minha vida para que entendam o processo de minha mudança para Lisboa, Portugal.
Meu nome é Adriano Palomares, 34 anos, casado, nascido em Santo André/SP, criado desde o nascimento em São Paulo/SP, especificamente em São Mateus, na Zona Leste, periferia. De família simples, como muitos no Brasil, pai pedreiro, mãe dona de casa, sou o mais novo de 8 irmãos.
Sempre estudei em escola pública, não tenho curso superior, minha profissão no Brasil se formou através de cursos profissionalizantes como Web Designer, a profissão que exerci por conta própria durante 10 anos no Brasil. O máximo que cheguei a ganhar foi uma média de 3 salários mínimos mas, como era por conta própria, meses houve que não ganhava nem um salário.
Conheci minha esposa através da internet, pois a mesma morava a 600 km da capital. Na época do orkut e do msn, ela me encontrou, me adicionou, e mantivemos uma amizade online por um tempo. Logo começamos a nos falar de forma mais séria até que iniciamos um namoro mesmo sem nos vermos, devido à forma como conversávamos.
Ficamos alguns meses nos comunicando pela internet até que eu decidi comprar uma passagem para Adamantina/SP, cidade natal da Denise, e encontrá-la. Comprei uma aliança de compromisso que levei, durante a viagem, já com a certeza de que tudo daria certo. Ela, também de família simples, que trabalhavam na roça no interior de São Paulo. Conquistei a Denise e toda a sua família, namoramos, noivamos e casamos em menos de 1 ano.
Quando me casei em 2008, levei Denise para morar em São Paulo, no mesmo bairro que eu morava, na mesma casa em São Mateus, pois era do meu pai e não precisava pagar aluguel, algo muito comum em São Paulo, quintal com várias moradias e meu pai cedeu uma dessas casas para nós. Com isso vieram as despesas de casado, mesmo com a esposa trabalhando a gente tinha as nossas privações, pois os nossos 2 primeiros anos foram pagando móveis e essas coisas todas.
Durante a nossa vida nunca tivemos condições de comprar uma boa carne como picanha, um bom peixe como o salmão, bacalhau, etc, (inclusive a primeira vez que comemos salmão foi aqui em Lisboa) as nossas refeições eram à base das comidas mais baratas, como frango, sardinha etc, e tudo quanto a gente comprava como despesa para casa era do mais barato, e nada de comprar sorvetes, danones… Comer em restaurantes era muito raro, por conta de nossa limitação financeira.
A minha esposa tinha uma irmã que tinha vindo para Portugal tentar uma vida melhor, e já aqui vivia. Contudo, jamais imaginamos fazer turismo para Portugal e muito menos morar, pois estava longe dos nossos projetos e da nossa realidade financeira da época.
Como todo o brasileiro gosta de carro, eu queria ter um carro e não importava qual, tanto que conseguimos juntar R$1000,00, levando meses para isso. Achei uma Brasília 79 por R$1.800,00, dei os R$1000,00 e parcelei o restante. Depois vendi a Brasília, por R$2000,00, juntei mais R$1000,00, achei um Golf 86 por R$3,600,00, dei a entrada e parcelei o restante. Vendi o mesmo carro por R$4,500,00, juntei mais R$500,00 e comprei um Escort 96 por R$5.000,00.
Cada vez mais, o objetivo era ir conquistando carros mais novos sem precisar de longos financiamentos e ficar preso em dívida.
Nessa fase da vida surgiu o convite de minha cunhada para a gente conhecer Lisboa, passar umas férias na casa dela. Isso foi em 2013, porém não tínhamos dinheiro, nem passaporte, nem nada. Então ela se ofereceu pagar 80% do valor de nossas passagens. Era uma oportunidade de conhecer um país europeu. Corremos a tirar nossos passaportes, demos essa entrada nas passagens e parcelamos em 10x o restante.
Em agosto de 2013 viemos de férias para Lisboa, ficamos 20 dias passeando todos os dias. Como ficamos na casa dela, vimos a realidade de como é viver em Portugal, custo de vida, segurança, e tivemos um grande choque, uma visão de uma realidade totalmente diferente da que estávamos acostumados.
E quando retornamos a São Paulo, o choque foi muito maior, em tudo começamos a fazer comparações, qualidade de vida, custo de vida, segurança, nós tínhamos medo de andar à noite, a nossa casa chegou a ser assaltada e roubaram todos meus equipamentos de trabalho.
Só reportagens de coisas negativas, ver a Rota passando em frente de casa todos os dias atrás de bandido, uma cena que parecia normal deixou de ser, e tudo aquilo virou loucura, começou a provocar crise de ansiedade em mim e na minha esposa. Queríamos nos ver longe dali! À noite, quando íamos dormir, além de trancar as portas colocávamos caibro (um pedaço de madeira) nas portas para reforçar o fecho.
E quando reportamos essa realidade à minha cunhada, ela nos ofereceu um quarto da casa dela por um tempo, para tentarmos uma vida em Lisboa, Portugal. Porém, ela não tinha mais dinheiro para nos oferecer nem para pagar outras passagens, e era outra oportunidade que não podia perder.
Eu tinha o carro no valor de 5 mil e os móveis de casa, então vendi o carro e todos os móveis apostando tudo, o que juntamos deu para pagar as passagens e nos sobraram cerca de 100 euros para começar uma nova vida em Portugal. 11 meses depois de conhecermos Portugal, em 2014, viemos embora para Lisboa em busca de uma nova vida.

Foi difícil a decisão e o começo. Fui trabalhar lavando carros, só para ganhar algum dinheiro e apenas 5 meses depois que cheguei aqui em Portugal, consegui emprego com contrato de trabalho em um restaurante, área que me mantenho até hoje por gosto.
Mas as dificuldades não haviam acabado, 1 ano depois, vivendo em Portugal, o jovem irmão de minha esposa veio a falecer em um acidente e minha mãe também veio a falecer com um problema de saúde. Nessa altura a gente não podia ir ao Brasil por motivos financeiros e de documentos, pois estávamos recomeçando nossa vida, e este foi nosso maior abalo por morar à distância. Com fé em Deus procuramos olhar para a frente e continuar na luta pelos nossos sonhos.
Já se passaram 4 anos (2014 a 2018) morando em Portugal. Alugamos o nosso apartamento em uma Zona boa de Lisboa, reconquistamos nossos móveis, o carro que vendi para comprar as passagens já reconquistei, já conhecemos o Porto, Aveiro, Coimbra, Serra da Estrela, Algarve, Évora, Badajoz e já fizemos centenas de passeios por toda a Lisboa. Almoçamos e jantamos em restaurantes sempre que queremos. Posso dizer que ainda que como uma pessoa assalariada, sentimos uma melhor qualidade de vida e uma certa paz que antes nunca existiu.
Quase dez anos de casado, sendo quatro em Portugal, sei que já sentimos as emoções na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na privação e na fartura, e soubemos suportar todas as coisas em amor.
Aqui em Lisboa, a minha esposa trabalha com a irmã cuidando de idosos, e eu como chefe de grelhados, por turnos, em um restaurante.
Eu gosto demais de viver aqui em Lisboa. Se tiver que morar no Brasil novamente, somente por força maior. Apesar de hoje morar em Portugal, eu faço turismo por aqui também, ou seja, nas minha folgas estou sempre a passear.

Quando pensamos que já tínhamos sentido todas as emoções depois de termos imigrado para Portugal, a produção da Record TV, do Programa da Sabrina Sato, encontrou nossa história em uma página da internet e fui contactado por eles, pois a Sabrina Sato iria gravar uma série de matérias aqui em Portugal, e propôs me entrevistar e a fazer uma homenagem de amor à minha esposa (tudo surpresa para ela).

E tudo aconteceu no Show do Bruno e Marrone, no Coliseu de Lisboa no dia 28/09/2017.

E assim aconteceu diante de 5 mil pessoas e depois, transmitido para todo Brasil e a toda Europa, na transmissão da Record no programa da Sabrina.

Em tudo agradeço a Deus e aqueles que nos ajudaram e nos ajudam. Aqui quero deixar a minha breve história esperando que seja motivacional para realização de seus sonhos e projetos.
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Grande abraço a todos!
Adriano Palomares
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Fico feliz por saber que há pessoas que conseguem singrar na vida, esta situação que este casal passou , também foi comum a muitos de nós portuguêses,no tempo da ditadura. Helder Buxo