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As pessoas invisuais entram nas histórias de terror associadas a esta zona por via do Instituto Branco Rodrigues, que funcionou naquele prédio junto ao mar até aos anos 70. O terreno era de Florinda Leal, pessoa importante de São João do Estoril, que decidiu ceder o espaço a José Cândido Branco Rodrigues, tiflólogo.
A tiflologia é um palavrão complicado para definir o estudo das formas de ensino de pessoas cegas. Trocado por miúdos: Branco Rodrigues dedicou toda a vida a invisuais. Começou por fundar o instituto em Lisboa e depois levou-o para o Estoril. Foi ainda responsável por um jornal para cegos, uma escola especializada no Porto e pela introdução da escrita braille em Portugal.
Um ano antes da construção do Castelinho (já lá vamos), Branco Rodrigues morreu. Foi em 1926. No testamento, o tiflólogo deixou o instituto à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que ficou com a responsabilidade de manter as portas abertas. Para que não restassem dúvidas, aliás, isso mesmo foi escrito num Diário do Governo da época.
A Santa Casa manteve ali o instituto até aos anos 70 e depois mudou-o para a Parede, outra freguesia do concelho de Cascais, onde ainda hoje funciona o Lar Branco Rodrigues. O prédio junto ao mar ficou anos ao abandono e até chegou a arder parcialmente. Atualmente, está em obras. Vai ser um edifício de apartamentos.

I ain’t afraid of no ghosts

Quem se afasta de Lisboa pela Marginal, em direção a Cascais, é brindado por um conjunto de palacetes, chalets e mansões, que são testemunhas de uma época em que a realeza e a alta burguesia iam a banhos nas praias da linha e por lá ficavam. O Castelinho é um desses exemplos e não é o único sobre o qual pairam histórias de assombrações.

Quando esta moradia foi construída, em 1927, o estilo neogótico já estava a passar de moda. Ainda assim, o arquiteto original — cujo nome se desconhece –, talvez inspirado pela paisagem, decidiu apostar nas ameias de estilo medieval, nas janelas com arco em ogiva, nos varandins sobre o mar, nas guaritas, nas torres pontiagudas e arredondadas.
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No Verão passado, estacionei aí e vi que o restaurante Choupana Gordinni tinha fechado e que diversos gatos famélicos deambulavam perto da entrada… Que também andassem pelo Castelinho, que fica ao fundo do mesmo caminho, seria de todo natural.