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Ao chegar, Castelo Branco terá visto uma menina a brincar com outras crianças junto à falésia e sentiu-se impelido a atirar-se ao mar. Não se atirou nem comprou a casa, que esteve abandonada durante muitos anos.
Junto ao Castelinho, ainda antes de vermos janelas a mexer-se misteriosamente, um homem estaciona, sai do carro e põe-se a olhar para o mar. Felizmente, parece não ter qualquer vontade de se atirar por ali abaixo.
Explica-nos que costuma fazer pesca submarina naquelas bandas e nunca ali viu fantasmas, só o entra e sai normal da vida dos vivos. Histórias de terror, aqui? “Isso é mito”, atira, sem sombra de dúvida na voz.

Eis mais uma versão da história, também corrente entre estorilenses e cascalenses: a menina que caiu ao mar era cega e não morava no Castelinho, mas numa outra casa mais afastada.
Ainda segundo a lenda, os pais, em homenagem à filha desaparecida, teriam dado o imóvel a um instituto de apoio a cegos.

A casa do tiflólogo
Lá está a realidade a estragar uma boa história. A pouco mais de meia centena de passos do Castelinho existe uma casa bastante mais simples, sem ameias nem janelas neogóticas. Ali funcionou, de facto, um centro de apoio a pessoas cegas, mas a lenda descarrila na parte sobre terem sido os pais da menina a deixar a casa para esse fim.
Não é verdade. O terreno esteve vazio até 1913, altura em que se construiu, propositadamente, um edifício para albergar o Instituto de Cegos Branco Rodrigues. O Castelinho só viria a existir 14 anos depois.
(cont.)
No Verão passado, estacionei aí e vi que o restaurante Choupana Gordinni tinha fechado e que diversos gatos famélicos deambulavam perto da entrada… Que também andassem pelo Castelinho, que fica ao fundo do mesmo caminho, seria de todo natural.