Bracara Augusta: a Misteriosa Fonte do Ídolo
A Fonte do Ídolo é o único monumento romano que fica no exterior do perímetro da muralha da cidade romana de Bracara Augusta, que sobreviveu intacto até aos dias de hoje.
A Fonte do Ídolo está em Braga, na Rua do Raio, e este nome expressa bem o contexto do santuário rupestre construído no século I, praticamente na mesma altura da Bracara Augusta.
Um lugar cheio de mistérios e controvérsia

A Fonte do Ídolo foi mandada construir por Celico Fronto, um homem originário de Arcóbriga, e é um santuário rupestre dedicado a Tongoenabiago, uma divindade fluvial indígena.
Este monumento foi talhado numa superfície vertical de um afloramento rochoso, com cerca de 3 metros de altura, e que foi cortado especialmente para este efeito.

Na parte esquerda desta superfície vertical, podemos observar uma estátua que mede cerca de 1,10 metros e que, devido ao seu estado avançado de degradação, é impossível saber-se se representa uma figura masculina ou feminina.
Ainda assim, é percetível que se trata de uma figura togada, segurando na sua mão um objeto que aparenta ser uma cornucópia.

Ao lado destas duas representações estão inscrições que levam a concluir que a Fonte do Ídolo foi construída por Celicus Fronto e renovada pelos seus descendentes.

À esquerda da cabeça desta estátua pode-se observar a seguinte inscrição:
“(CELI)CVS FRONTO / ARCOBRIGENSIS / AMBIMOGIDVS / FECIT”
o que, traduzido para português pode significar “Celico Fronto, de Arcóbriga, Ambimógido fez (este santuário)”.

Na parte direita desta superfície vertical, podemos visualizar uma edícula, no interior da qual se encontra representado um busto, intencionalmente talhado mais à esquerda de modo a dar espaço para aí se colocar a inscrição:
“CELICVS FECIT”.
e na parte inferior do nicho encontra-se a palavra “FRO(NTO)”. Esta inscrição refere-se ao nome do dedicante, dizendo “Celico Fronto fez”.
Já à esquerda da edícula, é possível ler-se o nome da divindade a quem o santuário foi dedicado: “TONGONABIAGOI”, ou Tongoenabiago.
Depreende-se ainda que a Fonte é dedicada ao deus Tongus, uma divindade fluvial indígena, um Deus dos povos da Bracara Augusta.
Interpretação da Fonte do Ídolo

O valor da Fonte do Ídolo vai além da obra implícita à sua edificação. Os dados históricos que revela são de enorme importância, permitindo confirmar, por exemplo, a existência de uma Mitologia Lusitana que em nada diferia das mitologias romana e grega.

De acordo com vestígios encontrados nas imediações da fonte, há investigadores que consideram que o monumento poderá ter sido elemento constituinte de uma domus da periferia, enquanto outros consideram estarmos perante um santuário público oferecido à comunidade bracarense por Celico Fronto – facto que torna a Fonte do Ídolo um dos escassos exemplos de evergetismo na cidade de Bracara Augusta.

Contudo, a Fonte do Ídolo tem outra particularidade que a torna enigmática e controversa. As duas figuras representadas na fonte não reúnem consenso, e diversas personalidades têm opiniões divergentes quanto à questão quem é quem. Na lista das dúvidas estão três figuras.
Por um lado, José Leite de Vasconcelos explica que o Deus Tongoenabiago está representado no busto dentro da Edícula e Celico Fronto, o edificante da fonte, representado em alto-relevo.

Por outro lado, Alain Tranoy, defende precisamente o contrário. O Deus Tongoenabiago está representado em alto-relevo e é Celico Fronto que corresponde ao busto dentro da Edícula.
Porém, há quem tenha ainda outra opinião, como António Rodríguez Comenero, que refere que Celico Fronto é apenas mencionado nas inscrições e não está representado nem no busto, nem em alto-relevo. O Deus Tongoenabiago estará retratado no busto dentro da Edícula e a Deusa Nabia em alto-relevo.

A fonte teve o seu auge na época romana e depois passou para uma fase obscura. Até serviu, durante mais de um século, como parede de um tanque de jardim de uma casa.
No Portal do Arqueólogo está mesmo registada como Tanque do Quintal do Ídolo, na ficha onde é classificada como Monumento Nacional.

Por outro lado, a Fonte do Ídolo já não é fonte. Impediram que uma das nascentes continuasse a jorrar água para aqui, depois de obras de musealização em 2002, em que a fonte foi protegida e ficou num espaço fechado.
No interior há água mas é apenas para os visitantes terem uma percepção mais próxima de como seria a fonte.
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