A historia da heroica pesca do bacalhau e daqueles destemidos lobos do mar que sulcavam o oceano, nos seus veleiros, para encontrarem essa iguaria tão apreciada por nós … O BACALHAU!

Na terceira década do séc. XIX, Portugal achou que tinha chegado o momento de deixar de depender, na totalidade, do bacalhau importado e depois de um interregno de cerca de 2,5 séculos, apetrechou-se de novo e iniciou a pesca do “fiel amigo”.
Mas quando falamos em bacalhau, pensamos num único tipo de peixe, só que isso não é verdade. Há 5 tipos de peixes chamados bacalhau:
O Cod Gadus Morhua é o legítimo bacalhau. É pescado no Atlântico Norte e considerado o bacalhau mais nobre. Tem coloração palha e uniforme quando é salgado e seco. Quando cozido, desfaz-se em lascas claras e tenras, de sabor inconfundível.
Já o Cod Gadus Macrocephalus (bacalhau do Pacífico), por se parecer com o Cod Gadus Morhua, também é vendido como bacalhau nobre. As diferenças estão no rabo e barbatanas (com extremidades brancas) e na sua coloração mais clara (quase branco).
O Ling tem carne bem clara e é mais estreito que os demais. Tem um bom corte e é muito bom para grelhar.
O Zarbo é um peixe pequeno e claro, que se adapta bem ao corte transversal e tem muito boa rentabilidade.
O Saithe, mais escuro, tem um sabor mais forte. É o mais importado e excelente para bolinhos, saladas e ensopados de bacalhau.
E antigamente, como era?

Todos os anos, no inicio da primavera, reunia-se junto à Torre de Belém uma frota de diversos veleiros dos portos de Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Figueira da Foz e Lisboa, que rumava aos mares da Terra Nova e Gronelândia, onde procuravam carregar os seus porões de bacalhau.

A pesca do bacalhau, mais do que um trabalho, era um ato de heroísmo! Até 1974, navios portugueses partiam em abril para uma missão heroica até outubro nas águas frias da costa da Noruega e da Gronelândia.

Cada navio levava entre 40 a 60 pequenas embarcações de 5 metros, chamadas Dori. Eles podiam transportar quase 1 tonelada de peixe cada e como se encaixavam uns nos outros, tornavam mais fácil a arrumação no navio._

Chegados aos locais de pesca, os pescadores, nos doris, afastavam-se a remo do navio e depois, com a ajuda de pequenas velas, partiam para a pesca. Chegavam a afastar-se até 30 km dos navios.

Quando ele passa, o marujo português
Não anda, passa a bailar, como ao sabor das marés
E quando se jinga, põe tal jeito, faz tal proa
Só para que se não distinga
Se é corpo humano ou canoa
Eles partiam às 4 da manhã e cada um recebia um balde com isco e uma bússola. Pescavam sozinhos e com grandes riscos, porque naquela região fria eram comuns as tempestades, nevoeiros e icebergs.

Chega a Lisboa, salta do barco num salto
Vai parar à Madragoa ou então ao Bairro Alto
Entra em Alfama e faz de Alfama o convés
Há sempre um Vasco da Gama num marujo português
Quase mil anzóis eram presos a um linha que chegava a ter 1,5km. Pescar assim só era possível porque o bacalhau depois de pescado não luta e fica à espera, quieto, até ser içado para o barco.

Quando ele passa com seu alcache vistoso
Traz sempre pedras de sal no olhar malicioso
Põe com malícia a sua boina maruja
Mas se inventa uma carícia,
Não há mulher que lhe fuja
A cada 2 horas, as linhas eram recolhidas e se os peixes fossem suficientes, eles voltavam ao navio, partindo depois para uma segunda pesca. Para comer, eles levavam apenas azeitonas e um pão com bacalhau.

Uma madeixa de cabelo descomposta
Pode até ser a fateixa de que uma varina gosta
Sempre que passa um marujo português
Passa o mar numa ameaça de carinhosas marés
Trabalhavam 20 horas por dia e raramente ficavam fora por mais de 4 horas de cada vez. No fim do dia o navio apitava ou, no caso de existir neblina, dava um toque de sirene e todos regressavam.


Os doris eram então descarregados, içados, limpos e empilhados para o dia seguinte.
Enquanto o navio não estivesse totalmente carregado eles não voltavam a Portugal.

Quando a captura era suficientemente grande, os pescadores ajudavam a tripulação que ficara a bordo a preparar o peixe, antes de jantarem e irem para as camas (beliches).

A etapa final era a de salgar o bacalhau e armazená-lo nos porões.

Banho, não havia. Eles trocavam de roupa uma vez por mês e a roupa interior, uma vez por semana. Ao fim do dia o cozinheiro dava-lhes 1 litro de água doce para se lavarem, já que a água era ultra racionada.

Se houvesse nevoeiro, era estendido um cabo de 2.000 metros, suspenso em boias, para que fosse mais fácil encontrar o navio. Mas mesmo assim não era incomum um pescador perder-se e ser deixado para trás.

Finalmente, o bacalhau era secado ao sol. Já os homens, iam pescar sardinhas nos outros 6 meses do ano.

Depois de todas as andanças que referimos, o bacalhau chega à nossa mesa suculento e delicioso, transformado num dos mais de mil pratos diferentes que podem satisfazer o mais refinado paladar.

E muitos dos belos navios que fizeram a epopeia do bacalhau do séc. XX, rumaram para outros locais onde cumprem missões diferentes como o «ARGUS», hoje «POLINESIA II», que transporta turistas e o «CREOLA», transformado em navio escola da armada Portuguesa.
Com os devidos créditos: Ney Deluiz
Que melhor se pose pedir aos pescadores do Famoso bcalhau nas brasas muito grato pelo vosso trabalho tao duro