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Foi António Passos quem, com a sua mulher Lurdes, ficou à frente do restaurante. “Ao princípio, a Regaleira era um restaurante muito seleto, só cá vinha a alta sociedade portuense. Mas em 1950, decidiram que devia ser mais aberta e remodelaram o espaço”, conta.
Dois anos depois, Daniel David da Silva é contratado e inventa aquela que décadas depois viria a ser considerada uma das melhores sanduíches do mundo. “Ao princípio, a Francesinha era um prato servido ao lanche, com um pequeno copo de sumo de frutas para acalmar o picante. Só mais tarde é que começou a ser servida às refeições”, afirma Francisco Passos.
A Francesinha tornou a Regaleira mais popular e sem mãos a medir. Ocupado com os outros negócios familiares, António Passos deu sociedade a dois dos empregados da casa, Manuel Ferreira e Augusto Marinho. Ainda hoje, apesar de com saúde já muito debilitada, continuam a ser sócios da nova geração da família Passos. “É uma pena que o sr. Manuel não esteja aqui hoje, porque ele tem muitas histórias e é uma personagem muito gira, é um verdadeiro tripeiro e o rosto da Regaleira”, lamenta-se Francisco Passos.
Francisco e o irmão herdaram a Regaleira em 2007, mas só há ano e meio é que pegaram no negócio. “Resolvemos avançar não só pelo negócio, mas pela história e pela família. Aqui há uns tempos o restaurante passou por uma fase menos boa, mas agora está bem. Conseguimos chamar mais gente e recuperar os clientes mais antigos”.
A casa foi recentemente alvo de remodelação, tendo-se modernizado sem perder a patine deste que é um dos mais antigos restaurantes do Porto. Houve pouco mais que pinturas na sala principal, as casas de banho sofreram uma profunda remodelação e até o letreiro de néon à porta foi restaurado.
O segredo para o renascimento é simples: “o nosso objetivo é adaptarmo-nos aos tempos, mas sem descaracterizar a casa. É por isso que ela mantém este aspeto mais antigo e é também por isso que os empregados já têm todos muitos anos de casa e que já temos aqui a trabalhar pessoas que são filhos deles. Às vezes dizem-nos para irmos à escola de hotelaria e trazermos gente nova, mas não é isso que queremos. Queremos manter o pessoal e formá-lo, porque eles sabem e são a Regaleira”.
Francesinha 5 estrelas
Provámos e gostámos. A Francesinha da Regaleira continua a fazer jus ao seu criador, Daniel David da Silva. O molho é espesso e muito saboroso e os ingredientes continuam a ser os mesmos de sempre e de boa qualidade.
Quisemos a Francesinha como mandam as regras, em pão bijou de cinco quinas. Eu pedi o molho à Leixões e o Alfredo Beleza ficou-se pelo tradicional. Para acompanhar, pedimos batatas fritas que são feitas na casa, às rodelas e onduladas, mas grossas. “Continuamos a fazer as batatas como antigamente. Não são como as do leitão, finas, mas grossas para que possam aproveitar o molho”, explica Francisco Passos.
(cont.)