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5 – Luís de Camões era pago tarde e em más horas

De acordo com outra das lendas sobre a sua vida, em 1552 Luís de Camões terá agredido um membro da Corte de D. João III e sido preso. A seguir conta-se que esteve na cadeia de Tronco, em Chaves, durante um ano, antes de, perdoado pelo rei, se mudar para a Índia.
Se Lisboa lhe teria proporcionado uma vida boémia e incerta, o Oriente não parecia ser para ele. Por isso, voltou para casa à conta de amigos como Diogo de Couto, que lhe pagavam as viagens e as despesas. Vinha com Os Lusíadas na mala e correu para se encontrar com D. Sebastião para lhe mostrar a obra-prima. O rei ofereceu-lhe 15 mil reis anuais, a serem entregues durante três anos, e permitiu a publicação do poema.
Sendo assim, como é que Luís de Camões morreu tão pobre como antes? Até ao momento em que a peste o levou, a sua lenda fala-nos de um escravo chamado Jau – que teria viajado com o poeta desde a Índia – que o sustentava, mendigando pão de porta em porta para depois entregar a Camões.
Muitos têm acreditado que a carteira do poeta estava vazia por culpa de uma desorganização alarmante e do olhar leviano que Camões lançava à vida. É que a pensão que recebia era razoável para a época e podia servir perfeitamente para levar uma vida confortável. Isto se o pagamento acontecesse a horas.
Na verdade, a história não será tão linear: parece que D. Sebastião não cumpria com as datas de pagamento, pelo que o dinheiro do escritor português esgotava sempre. Chegados a 1578, a situação agravou-se com a morte do rei, a crise da sucessão e a subida ao trono de Filipe II de Espanha.
Julga-se que a saúde de Camões se deteriorou gravemente nessa: se a peste lhe atacava o corpo, a perda da independência portuguesa corroía-lhe a alma. E a desilusão era tão grande que, no leito da morte, Luís Vaz de Camões terá dito:
Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela.
Fonte: Observador
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