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3 – Os restos mortais de Camões… podem não ser dele
Durante cento e setenta e cinco anos o corpo de Camões ficou sepultado da Igreja de Sant’Ana. Embora tudo apontasse para que o poeta estivesse enterrado do lado esquerdo da entrada principal do edifício, existia a possibilidade de os restos mortais terem sido depositados na fossa da igreja.
Até que o terramoto de 1755 agitou Lisboa e destruiu o túmulo. Os restos mortais de Luís de Camões perderam-se no espaço e no tempo e o poeta perdeu a única homenagem digna que lhe foi feita.
Em 1854, no entanto, o ministro do Reino – Rodrigo da Fonseca – nomeou uma comissão que tinha como missão encontrar a sepultura e as ossadas de Camões. Os investigadores seguiram então para a reconstruída Igreja de Sant’Ana em busca de pistas. E terão encontrado: no relatório apresentado ao rei D. Luís I foi escrito o seguinte:
A uma certa altura viram-se ossos em forma que se lhe não tinha mexido. Alguns d’estes pois sem dúvida os de Luís de Camões; mas quais se nem era possível distinguir a sepultura.
Ainda assim, mesmo sem encontrar a pedra de mármore, a transladação iniciou-se e as ossadas foram levadas para o Mosteiro dos Jerónimos. As palavras dúbias do ministro levam Vítor Aguiar e Silva, escritor que se dedica aos estudos camonianos e autor do livro “Dicionário de Luís de Camões” a alertar: os restos mortais presentes na sepultura implantada naquele monumento podem não ser do aclamado poeta lusitano.
No século XIX, assumiu-se que aquelas eram as ossadas de Camões. Não havia um modo científico de determinar a identidade da descoberta, mas a exaltação patriótica impunha-se e era necessário homenagear o autor d’Os Lusíadas. Por isso, os ossos encontrados foram levados para o Mosteiro dos Jerónimos, mesmo sem as certezas necessárias. Estão depositados na ala sul do mosteiro, enquanto o lado norte é reservado a Vasco da Gama – um herói em Os Lusíadas.
De resto, o Panteão Nacional também detém uma arca tumular sem corpo como homenagem ao poeta.
(cont.)