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MENTIRA N.º 7
Somos um país muito pequeno
Grandes não seremos, mas a imagem forçada da pequenez nacional tem sido usada pelos governantes como desculpa para a má gestão crónica.
Se compararmos a superfície de Portugal com as dos outros Estados da Europa (incluindo aqueles que se estendem para a Ásia), verificaremos que Portugal ocupa a 23.ª posição numa lista de 53 países. Trata-se portanto de um território de dimensão média, equivalente por exemplo à Hungria. A que se deve então o equívoco tão entranhado de que o nosso país é minúsculo?
Provavelmente, ao facto de os vizinhos mais próximos serem francamente maiores, a começar pela Espanha, que tem cinco vezes e meia a nossa área. A França é ainda um pouco maior do que esta, e o Reino Unido, a Alemanha ou a Itália também não são nada pequenos.
No entanto, ultrapassada esta barreira, verificamos que tanto a próspera Suíça como a bem organizada Holanda são menores do que Portugal, o mesmo sucedendo com a Bélgica, a Áustria, a Dinamarca, a República Checa, a Irlanda, a Sérvia, a Croácia, a Bósnia, a Macedónia, a Estónia, a Letónia ou a Lituânia.
Para já não falar dos Estados reconhecidamente pequenos, como o Luxemburgo, o Chipre, Andorra ou as ilhas Faroé, nem dos minúsculos Mónaco, Malta, Liechtenstein, San Marino e Vaticano.
Quanto à população, Portugal ocupa o 14.º lugar entre os países exclusivamente europeus, e a sua média de habitantes por quilómetro quadrado é a 26.ª da lista. Portanto, seja qual for o critério a que se obedeça, a conclusão a que se chega é sempre a mesma: o nosso é um país europeu médio.
Para a construção da imagem mental podem também ter contribuído a vastidão do Brasil e a largueza de Angola e de Moçambique, territórios a que estamos histórica e afetivamente ligados.
Simultaneamente, esquece-se que o Brasil, à semelhança daquelas colónias africanas, já nos pertenceu (embora em época diferente) e que um dos elementos da propaganda salazarista chegou a ser exatamente uma suposta vastidão geográfica de Portugal. Muitos de nós lembramo-nos ainda bem do mapa da Europa com as colónias portuguesas sobrepostas e a legenda “Portugal não é um país pequeno” (e que se reproduz aqui ao lado).
Mas porquê a habitual insistência numa suposta pequenez? Só pode haver uma explicação: país pequeno deixa subentender escassez de recursos, logo serve de desculpa à falta de iniciativa dos cidadãos e a inépcia governativa. Iniciativa nunca houve verdadeiramente, num país tradicionalmente governado em “cadeia de comando”, à maneira de um quartel, com o comum dos cidadãos a designar por “eles” os que seguram o leme do barco.
Ao admitirmos este fatalismo, que funciona como uma espécie de pecado original a que seríamos alheios, fazemos por esquecer que existem países mais pequenos do que Portugal e francamente mais bem sucedidos como são, para não ir mais longe, os casos da Suíça ou da Holanda. É oportuno recordar que a própria Inglaterra (sem a Escócia, Gales e a Irlanda do Norte) tem apenas mais um terço, se tanto, da área portuguesa.
Sim, é certo que a sua população corresponde ao quíntuplo da nossa e que o seu território é rico em ferro, carvão e petróleo, mas a estas vantagens inegáveis pode ser contraposta a agrura do clima e a relativa pobreza agrícola do solo. De qualquer modo, nenhuma ideia feita resiste à comparação com a Holanda, um país fisicamente “inexistente”, quase inteiramente fabricado pelo Homem sobre pântanos, sob um céu escuro como breu.
Pequenos, nós? Sim, de facto, mas por opção…
Fonte: Visão
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