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4 – Luís de Camões e o seu carinho por um jovem fidalgo
Que o poeta português nutriu paixões assolapadas por várias mulheres ao longo da vida, não é novidade para ninguém: além das descrições d’OsLusíadas, são conhecidos muitos poemas românticos que Camões terá dedicado às mulheres com quem se cruzou ao longo da vida. Uma delas terá sido D. Maria, a irmã do rei D. João III: reza a lenda que ambos viveram um amor platónico, impedido de ser consumado pelas diferenças sociais que os separavam. Mas existem mais histórias.
Conta-se também que Luís de Camões terá trabalhado, muito jovem, em casa de D. Francisco de Noronha, conde de Linhares, e de D. Violante e Andrade. Ninguém sabe ao certo o emprego que tinha (ou sequer se o tinha), mas foi referido alguma vez como “cavaleiro-fidalgo” nas tenças (remuneração pela prestação de um serviço) que o nobre lhe entregava. Ora, a mulher do patrão pode ter sido mais um objeto dos amores de Camões. E o sentimento terá sido correspondido: Violante havia casado por conveniência com um homem muito mais velho, por isso decidiu atender à paixão de Camões.
Mas o galã português do século XVI não se ficou por aqui: quando o romance com Violante terminou, logo o poeta se teria deixado encantar por D. Joana, uma das filhas do casal que já estava na adolescência. Outra mulher que terá caído nos braços de Camões foi Catarina de Ataíde, uma dama da rainha a quem o poeta escrevia versos. Os historiadores ainda não conseguiram determinar que Catarina era esta, já que havia três com o mesmo nome: a mulher de um nobre de Aveiro, a neta de Vasco da Gama ou a filha de um nobre amigo daquela família.
Se o amor camoniano invadiu todos os quartos femininos daquela casa, Camões também terá tido um carinho especial por António de Noronha, também ele filho dos donos da casa. O jovem nobre nasceu em 1536 e era pupilo do poeta. Trocavam muita correspondência onde transparecia a proximidade entre o nobre, com cerca de 15 anos, e Camões, na casa dos 26.
Até que, a 29 de abril de 1553, António de Noronha morre numa batalha em Ceuta contra os mouros. Luís de Camões terá sofrido muito com a notícia e dedicou um soneto ao jovem morto aos 17 anos. A primeira quadra da composição dita assim:
Em flor vos arrancou, de então crescida
(Ah! senhor dom António!), a dura sorte,
Donde fazendo andava o braço forte
A fama dos Antigos esquecida.
Se esta quadra é um exemplo de um soneto dirigido quase de certeza a António de Noronha, outros parecem ser mais discretos – mas também mais emocionalmente intensos. É o exemplo disso os últimos dois tercetos de um poema, onde se lê:
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
(cont.)