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A oferta hoteleira cheia de pinta
Tal como escrevemos acima, o turismo traz alguma pressão imobiliária porque o número de hotéis e alojamentos começa a aumentar, para corresponder ao aumento da procura de camas. Muito desse crescimento tem sido feito com bom gosto e com preços para diversas posses.
Sendo o fenómeno do turismo relativamente recente, há muitos hotéis e hostels novos, que costumam entrar nos muitos tops de melhores alojamentos do mundo que se vão fazendo amiúde. O Oh!Porto, por exemplo, abriu com um projeto arquitetónico que vale só por si uma visita. Mesmo que não se queira ficar hospedado num dos seis apartamentos de decoração minimalista, batizados com o nome das seis pontes que compõem a paisagem ribeirinha — D. Luís, Arrábida, Freixo, Infante, São João e Dona Maria.
O Flores Village e o Vitória Village, com entrada pela Rua das Flores, são diferentes mas partilham entre si um jardim privado de fazer inveja. Depois de cinco anos em obras, o M Maison Particulière abriu no Largo de São Domingos com uma estrela por cada ano de obras. Trata-se de um antiga casa particular com 10 suites com pormenores do edifício original, que remonta ao século XVI.
As pinturas murais, os tetos ornamentos e os azulejos tradicionais também fazem parte da decoração e os preços começam nos 195€. Já o Armazém Luxury House, que era um armazém de ferro, é agora um hotel de charme cheio de janelas e terraços abertos para a Sé do Porto e a Torre dos Clérigos.
A estação de São Bento
Sair do Alfa Pendular ou do Intercidades em Campanhã pode ser desolador. Mas apanhar o metro ou o comboio para a Baixa e sair em São Bento desfaz logo qualquer dúvida sobre o que a cidade tem para oferecer.
Classificada em 1997 como Imóvel de Interesse Público, a estação ferroviária completou em 2016 os 100 anos da sua inauguração e os painéis de azulejo do átrio principal, da autoria de Jorge Colaço, continuam a merecer as muitas visitas guiadas e flashes diários. Vale a pena contratar um guia para decifrar as cenas de cada parede.
O São João
Por uma noite, a cidade enlouquece. No bom sentido. De 23 para 24 de junho, os portuenses tiram do armário os martelinhos, saem para a rua para assar sardinhas e lançar balões para os céus, esfregam alho-porro na cara de desconhecidos e ainda lhes martelam a cabeça sem pudor, que se os martelos só se usam uma vez por ano há que aproveitar a oportunidade.
Melómanos eruditos esquecem Bach, os Beatles e Kanye West para correrem rapidamente e em força para o bailarico mais próximo — nem adianta fingir que não se sabe de cor metade do repertório do Emanuel ou do Quim Barreiros, que essa não cola. À meia noite, as cabeças viram-se para o céu, ou não fosse noite do melhor fogo de artifício do ano.
E tudo isto por um santo que nem sequer é o padroeiro da cidade. O São João é, sem dúvida, a maior festa do Porto e atrai visitantes de todo o lado.
A arte urbana
A cidade está deserta. E alguém escreveu o teu nome em toda a parte, cantava Vítor Espadinha para os Ornatos Violeta. A cidade não está deserta e, para além dos nomes escritos, há murais inteiros de arte urbana nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Até nas caixas de eletricidade, umas pintadas, outras com frases típicas da cidade lá escritas, como “Oh morcom, bai-me à loja”. A mais recente inaguração pertence a Joana Vasconcelos, que criou um mural em azulejo na hamburgueria Steak n’Shake, na Praça Guilherme Gomes Fernandes.
No verão, a PortoLazer costuma promover visitas guiadas pedestres por algumas das mais recentes intervenções do programa de Arte Urbana do Porto. E há tantas por descobrir, da autoria de nomes como Hazul, Mr Dheo, MAISMENOS, Third e Mesk.
As vistas
Dizem que os últimos são os primeiros. Na hora de escolher um destino de viagem quem puser “Porto” num qualquer motor de busca e pedir para mostrar imagens vai ver centenas de fotografias parecidas. É que quase todas se focam na zona ribeirinha do Porto, com o céu azul, o rio, as pontes, as casas coloridas e os monumentos da zona histórica.
O Douro dá cor e vida à cidade, e as muitas subidas e descidas permitem que os miradouros se multipliquem. Um dos favoritos dos jovens portuenses é o Passeio das Virtudes. No verão, chega a ser difícil arranjar um pedaço de relva para estender a toalha (mas consegue-se). Alguns artistas de rua juntam-se por ali, a beber uns ‘finos’ e comer umas tostas, tudo “ao preço da uva mijona”, para usar uma expressão local.
O tabuleiro superior da Ponte D. Luís I é outro dos miradouros obrigatórios de quem visita a cidade — mas cuidado com o metro, que passa no centro. Dali, do centro do rio, consegue-se ver as duas margens. As melhores vistas para o Porto conseguem-se do lado de Gaia, claro, sobretudo do Cais de Gaia.
De resto, opções não faltam. Em 2016 e 2017 abriram novas esplanadas, algumas com vistas verdadeiramente deslumbrantes, como as do restaurante Torreão e Miradouro Ignez. A calma que as esplanadas da Cooperativa Árvore e do restaurante Antiqvvm proporcionam não tem preço. Ou melhor, tem: basta pedir uma bebida ou um dos pratos dos respetivos menus. Com uma vista destas, qualquer refeição sabe melhor.
Autora: Sara Otto Coelho
Fonte: Observador
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